Contemplado entre 42 projetos de alto nível no país, Tocantins terá seu primeiro Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
INCT em Ecotoxicologia Terrestre é inédito no Brasil, sendo um dos selecionados em edital com R$260 milhões para investimentos totais em ciência de ponta no país
Com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa/Tocantins (Fapt), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o CNPq anunciaram a criação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Ecotoxicologia Terrestre.
A ser sediado no campus de Gurupi da Universidade Federal do Tocantins (UFT), este será o primeiro INCT do Estado do Tocantins e, ainda, o primeiro com essa temática no Brasil. O INCT em Ecotoxicologia Terrestre estudará os impactos dos agrotóxicos no solo e os potenciais efeitos adversos à saúde humana.
O anúncio, feito pela ministra Luciana Santos e o presidente do CNPq, Ricardo Galvão, na abertura do 62º Fórum Nacional do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), em Brasília, contempla 42 projetos científicos no país e um investimento total de R$260 milhões. Os recursos são destinados a projetos científicos considerados de alto nível, a serem desenvolvidos em rede nacional e/ou internacional.
Segundo o presidente da Fapt, Márcio Silveira, a implementação do INCT fará, do Tocantins, uma referência nessa área de estudo, pois será o primeiro INCT em Ecotoxicologia Terrestre no país, importante inclusive ao desenvolvimento de políticas públicas, sobretudo na questão do agronegócio, do meio ambiente e da sustentabilidade. "Esperamos alcançar sucesso na execução dessa proposta, que é muito importante para o Brasil, já que a compreensão dos fatores sobre o uso de agrotóxicos pode impactar não apenas na saúde do solo e da população, mas numa melhor produtividade”, afirmou Silveira.
Para o reitor da UFT, Luis Eduardo Bovolato, o apoio do governo do Tocantins - por meio da Fapt - foi fundamental para a aprovação do projeto e o será, também, para a concretização dessa iniciativa. Além disso, frisa o reitor, a presença da UFT como instituição pública à frente deste INCT pioneiro trará o que há de melhor na pesquisa científica, oportunizando aos pesquisadores da instituição - principalmente aos do campus de Gurupi - a investigação científica de alta qualidade. "Trata-se de uma temática muito alinhada à sustentabilidade e às questões ambientais, considerando especialmente nossa inserção em todo o território do MATOPIBA, que é a última grande fronteira de expansão agrícola no mundo. Assim, este INCT trará imensas contribuições aos estudos ligados ao uso de agrotóxicos e suas relações com o solo, águas e saúde, de maneira geral", pontuou Bovolato.
Excelência científica da UFT e potencial do Tocantins
Para o coordenador do INCT em Ecotoxicologia Terrestre, Prof. Dr. Renato Sarmento, ter o projeto entre os contemplados no país aponta para a excelência e potencial dos pesquisadores e instituições de pesquisa científica do Tocantins. “Isso mostra, ao Brasil e ao mundo, que, aqui no Tocantins, temos infraestrutura e recursos humanos capazes de desenvolver pesquisas que possam resolver grandes problemas mundiais. Isso abre caminho para a nucleação de novos grupos de excelência no Tocantins, bem como a criação de novos INCTs”, destaca Sarmento.
Já para a vice-coordenadora, a Profa. Dra. Vanessa Bezerra de Menezes Oliveira, o INCT em Ecotoxicologia Terrestre será essencial para se determinar quais os produtos mais eficazes ao combate de pragas indesejadas na produção agrícola, além daqueles que minimizam efeitos deletérios ao meio ambiente e aos humanos. "Dessa forma", explica a professora Vanessa, "o conhecimento e ferramentas adquiridas neste INCT fornecerão evidências científicas e tecnológicas a decisores políticos, indústria de agrotóxicos e utilizadores que permitirão melhorar a produção de alimento, ao mesmo tempo em que se minimizem os impactos ambientais".
O pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFT, Prof. Dr. Raphael Pimenta, também enfatizou a excelência científica da UFT e, na ocasião, os pesquisadores envolvidos nesta conquista tão árdua e especial, concorrida por vários projetos de alto nível em todo o país. “Isso demonstra a qualidade das pesquisas que são feitas em nossa instituição e por esse grupo de professores capitaneados pelo professor Renato Sarmento, que têm demonstrado uma excelência internacional, com publicações importantes, projetos incríveis, sendo aprovados e financiados devido ao alto grau de relevância das pesquisas realizadas aqui na UFT”, frisa Pimenta.
Mais detalhes sobre o anúncio dos investimentos nos novos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia podem ser conferidos aqui.
Sobre o Programa INCT
Criado em 2008, o Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) contempla grandes projetos de pesquisa de longo prazo - em redes nacionais e/ou internacionais de cooperação científica -, para o desenvolvimento de projetos de alto impacto científico e de formação de recursos humanos. Os INCTs abrangem diferentes áreas do conhecimento - Ciências Humanas, Biológicas, Exatas e Agrárias -, envolvendo milhares de pesquisadores e bolsistas no estudo de temáticas complexas.
Cada INCT é coordenado por uma instituição sede com excelência em produção científica e/ou tecnológica, alta qualificação na formação de recursos humanos e com capacidade de alavancar recursos de outras fontes. Além disso, a instituição coordenadora deve dispor de um conjunto de laboratórios ou grupos associados de outras instituições, articulados na forma de redes científico-tecnológicas, com uma área ou tema de atuação bem definidos, que estejam na fronteira da ciência e/ou da tecnologia ou em áreas estratégicas do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia & Informação (CT&I). Trata-se, assim, de um dos mais importantes programas de fomento a projetos de alto impacto científico e de formação de recursos humanos no país.
Portanto, o Programa INCT tem, por objetivo principal, fomentar propostas de pesquisa de alto impacto científico e tecnológico em áreas estratégicas e/ou na fronteira do conhecimento, visando a solução dos grandes desafios nacionais.
Como Diretrizes do Programa, os INCTs caracterizam-se como estruturas de pesquisa que desenvolvem, articuladamente, propostas em rede, de caráter interdisciplinar e com objetivos e metas claramente definidos e mensuráveis, com foco nas áreas estratégicas para o Brasil e em pesquisas na fronteira do conhecimento. Assim, os INCTs têm por objetivos e características essenciais:
- mobilização e agregação de grupos de pesquisa de excelência, de forma articulada e cooperativa, com atuação em redes interinstitucionais, priorizando a interdisciplinaridade;
- desenvolvimento de programas de pesquisa de alto impacto científico e/ou tecnológico na fronteira do conhecimento, que permita avanços científicos substanciais e desenvolvimento tecnológico inovador;
- atuação em áreas estratégicas para o desenvolvimento nacional que respondam às demandas de políticas públicas de Estado;
- forte e real interação com o sistema produtivo, com as diferentes instâncias de Governo ou com a sociedade, por meio de mecanismos de cooperação que facilitem o desenvolvimento conjunto de conhecimento, produtos e processos e que incentivem o empreendedorismo inovador;
- visibilidade internacional por meio de ações que possibilitem a interação com grupos de excelência de outros países, visando o aumento da quantidade e qualidade na produção científica e tecnológica;
- criação de ambiente atraente e estimulante para alunos de diversos níveis, do ensino médio à pós-graduação, promovendo a formação de jovens pesquisadores;
- desenvolvimento de ações de educação, popularização e/ou divulgação científica para diferentes tipos de público, alcançando amplos setores da sociedade em articulação com especialistas, grupos e instituições que atuam nas áreas de educação formal e não formal.
Para saber mais, acesse a página INCT/CNPq.
Sobre o INCT em Ecotoxicologia Terrestre e a relevância de sua temática de estudo
A proteção da biodiversidade do solo tem sido uma preocupação de cunho econômico e ambiental em todo o mundo. O Brasil tem sua economia intrinsecamente ligada aos sistemas agrícolas e pecuários, os quais fazem uso de agrotóxicos e fertilizantes.
A partir de 2008, o mercado brasileiro atingiu o primeiro lugar em consumo de agrotóxicos no ranking mundial, ultrapassando países como China e Estados Unidos. O uso indiscriminado desses agrotóxicos na agricultura moderna tem despertado crescente preocupação, devido aos potenciais efeitos adversos à saúde humana. Entre as preocupações mais alarmantes estão a possível correlação entre a exposição a essas substâncias e o aumento dos casos de Autismo, Síndrome de Down, assim como o crescimento de doenças degenerativas em idosos, incluindo o Mal de Parkinson e a Doença de Alzheimer.
Há estudos científicos que sugerem uma possível associação entre a exposição a agrotóxicos durante a gestação e o aumento de casos de Autismo e Síndrome de Down em recém-nascidos. Nesses trabalhos, a hipótese é de que os agrotóxicos, compostos por elementos químicos potencialmente neurotóxicos, possam interferir no desenvolvimento do sistema nervoso em estágios cruciais, impactando o desenvolvimento cerebral e contribuindo para condições neuro-patológicas. Além disso, na população idosa, a exposição crônica ao longo da sua vida a esses produtos químicos tem sido correlacionada ao aumento de casos de Mal de Parkinson e da Doença de Alzheimer.
"Os mecanismos precisos dessas relações ainda estão sendo investigados, mas a urgência em abordar essas questões é inegável num contexto moderno e atual de 'uma só saúde', considerando-se um efeito boomerang sobre o meio ambiente e o homem em decorrência das atividades antrópicas", explica o professor Renato Sarmento.
Diante desse cenário desafiador, a avaliação ecotoxicológica dos efeitos de agrotóxicos sobre organismos não-alvo - como é o caso dos organismos de solo - emerge como uma ferramenta crucial na busca por soluções mais sustentáveis. "Ao compreendermos como esses produtos afetam esses organismos e os ecossistemas, podemos desenvolver estratégias mais eficazes para diminuir, minimizar ou mesmo erradicar os impactos negativos sobre a saúde humana e do ambiente", complementa ele.
A avaliação ecotoxicológica fornece indícios sobre os impactos na cadeia alimentar e nos processos biológicos, permitindo idealmente a implementação de práticas agrícolas mais seguras. "Assim, a avaliação ecotoxicológica não apenas identifica os riscos, mas também orienta a formulação de políticas e práticas agrícolas mais seguras", afirma o coordenador do INCT em Ecotoxicologia Terrestre. "Ao entendermos como os agrotóxicos interagem com organismos não-alvo, podemos desenvolver estratégias para reduzir a contaminação do solo, a exposição dos animais e, por conseguinte, a presença desses produtos na cadeia alimentar", detalha.
Menos exposição a resíduos, menos impactos à saúde
A transição para métodos agrícolas mais sustentáveis não só beneficia o meio ambiente, mas também contribui para a saúde da população. Menos exposição a resíduos químicos significa uma redução nos potenciais impactos à saúde humana, especialmente em grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos.
Agricultores, órgãos reguladores, cientistas e consumidores desempenham papéis interdependentes nesse processo. "O caminho para uma agricultura sustentável e uma população mais saudável requer esforços colaborativos, regulamentações eficazes e uma mudança cultural em relação aos métodos de produção de alimentos. Ao integrar a avaliação ecotoxicológica nas práticas agrícolas, podemos criar um ambiente em que a produção de alimentos seja compatível com a preservação da saúde humana e do ecossistema como um todo", ressalta o professor Sarmento.
Dessa forma, o INCT em Ecotoxicologia Terrestre tem, como tema central de seus estudos, a avaliação ecológica e ecotoxicológica dos agrotóxicos nos ecossistemas terrestres. O grupo de 22 pesquisadores brasileiros e estrangeiros participantes da equipe da proposta, vinculados a 14 instituições de ensino e pesquisa nacional e internacional, possui um vasto histórico de colaborações, sendo este projeto uma excelente oportunidade para fortalecer o intercâmbio científico e tecnológico, de recursos humanos e inovação.
Conforme explica o coordenador do INCT em Ecotoxicologia Terrestre, os estudos serão realizados em diferentes regiões do Brasil, gerando dados científicos que subsidiem ações das agências reguladoras, além da divulgação dos resultados para a comunidade científica e a sociedade em geral, por meio de iniciativas dos diferentes parceiros do projeto. Serão, ainda, utilizadas metodologias avançadas, pouco ou nunca aplicadas em solos brasileiros, tais como:
- estudo das misturas binárias e complexas de agrotóxicos, avaliação das comunidades edáficas utilizando microcosmos;
- ensaios de campo e de laboratório e considerando condições tropicais e eventos climáticos extremos (ex. diferenças na temperatura e umidade).
"Espera-se obter um avanço expressivo nesta linha de pesquisa, com o desenvolvimento e adaptação de metodologias para avaliar e monitorar os efeitos dos agrotóxicos sobre o solo e formação de recursos humanos. Além disso, a proposta pretende interagir com os produtores agrícolas, pensando e subsidiando alternativas para uma maior sustentabilidade nos sistemas de produção", finaliza Renato Sarmento.
Redes Sociais