Acessibilidade e inclusão

Projetos desenvolvidos no Labtec da UFT tornam a salas de aulas mais dinâmicas e inclusivas

Um ambiente inovador e repleto de máquinas que chamam bastante atenção. Essa descrição se encaixa perfeitamente no retrato do Laboratório de Tecnologias Computacionais da Universidade Federal do Tocantins, o Labtec. Localizado no Câmpus da UFT em Palmas, o espaço se destaca pela estética que inspira criatividade e desperta a curiosidade de quem circula pelo Câmpus. Mas, para além do que se vê externamente,  é dentro do Laboratório, que as aplicabilidades da tecnologia 3D ganham uma função muito importante para o para as atividades de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas pela Universidade, sobretudo no que diz respeito à acessibilidade e inclusão. Coordenado pelo professor Warley Gramacho, do curso de Ciências da Computação e com participação de estudantes e professores de diversas áreas do conhecimento, o Labtec transforma pesquisas em objetos práticos, que dinamizam o ensino e aprendizagem. 

Um pouquinho de história…

O Labtec UFT iniciou suas atividades em 2020, já utilizando das possibilidades das impressões tridimensionais para atender a uma demanda da sociedade. No período mais crítico da pandemia de Covid-19, o professor Warley, em conjunto com acadêmicos e docentes da UFT, começou a produzir protetores faciais a partir de impressões 3D para serem doados aos profissionais de saúde do Tocantins. O protótipo utilizado para a produção dos protetores foi parte de um projeto nacional e a demanda pela produção veio da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFT (Propesq). 

Com o avançar da pandemia e a escassez desse equipamento de proteção individual no mercado, a procura pelos protetores foi ampliada e, então, o Labtec, temporariamente instalado no Bloco 3, começou a atender outros órgãos públicos, cujos servidores estavam trabalhando presencialmente. Mesmo ainda em fase inicial, o Laboratório se destacou no combate ao coronavírus ao aliar conhecimento científico e inovação em prol do bem estar da sociedade.

Passado o momento difícil, e também por meio dos esforços da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), da Pró-Reitoria de Tecnologia da Informação (Protic), Pró-Reitoria de Avaliação e Planejamento (Proap) e da Direção do Câmpus de Palmas em conjunto com a coordenação do Laboratório, o  Labtec cresceu e em 2022 foi contemplado com recursos do edital do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública vinculada ao Ministério, para a implantação de laboratórios abertos de prototipagem  e espaços compartilhados. Com o recurso, no valor total de R$ 925.984,15, oriundos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), foi possível ampliar o Laboratório, bem como realizar a aquisição de computadores, insumos e equipamentos que ampliaram o Labtec e, consequentemente as pesquisas e projetos desenvolvidos no espaço. 

Mas afinal, no que os pesquisadores do Labtec vem trabalhando?

Tarciso Filho, Larissa Hirai, Armano Barros e Sophia Menezes são alguns dos jovens pesquisadores que colaboram com desenvolvimento de pesquisas no Labtec

Atualmente, o Labtec tem atuado principalmente na aplicabilidade da tecnologia 3D para tornar o ambiente de ensino mais inclusivo e dinâmico. O professor Warley explica que o objetivo do Laboratório é trabalhar de forma integrada a outras áreas do conhecimento para propor soluções tecnológicas que atendam a necessidade dos estudantes e professores em sala de aula e também a sociedade como um todo.  

“Nós temos projetos de acessibilidade, projetos de objetos didáticos e nós crescemos em termos de estrutura e de projetos que estão em execução e de alunos envolvidos. Temos alunos do curso de Ciências da Computação, da Pós-Graduação, alunos de outros cursos, professores de outros cursos também participando de projetos. Então esse prédio vem justamente nesse intuito de criar um ambiente multiusuário que vai envolver não só o curso de Ciências da Computação, mas sim todos os curso de todos os campus para o desenvolvimento de projetos distintos, desde objetos pedagógicos, até a parte de acessibilidade, a parte de robótica, e a parte de Internet das Coisas (IoT), justamente para  servir também a outras áreas. O projeto, também, está em fase de cadastramento para prestação de serviços à comunidade, pois a demanda já está alta para que possamos levar as tecnologias desenvolvidas a diversos setores”, destaca o professor. 

E nesta edição do Sexta com Ciência você vai conhecer três projetos  desenvolvidos no Labtec que já  estão fazendo a diferença na sala de aula. 

O Xadrez Indigena 

Que o Xadrez é uma ótima ferramenta de ensino, amplia as habilidades de raciocínio lógico e melhora o desempenho dos estudantes em sala de aula, a literatura já comprova. Mas será que os conceitos basilares desse jogo são absorvidos por todos da mesma forma?  Foi pensando nisso e levando em conta a população indígena do Tocantins,  que o professor Warley Gramacho e o estudante de Ciências da Computação Antônio André Barcelos desenvolveram, a partir de impressões 3D, o Xadrez Indígena.

A pesquisa e a elaboração do xadrez personalizado levou em consideração não só o desejo de potencializar o processo educacional indígena, atribuindo ao jogo elementos de sua própria cultura, história, geografia e linguagem, como também motivar o estudo da cultura indígena pelos não-indígenas. Trabalhando de forma interdisciplinar e aliando a tecnologia, cultura, história e educação, os pesquisadores desenvolveram protótipos do jogo de xadrez que utilizam personagens da cultura indígena em substituição aos personagens tradicionais do jogo. 

O projeto, desenvolvido por meio de recursos de editais da Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários (Proex), tem baixo custo e que pode ser replicado com facilidade dá aos educadores a alternativa do uso dos personagens adaptados como aliado do processo de educação tradicional no âmbito do ensino da cultura dos povos indígenas, além de trazer para a educação indígena todas as vantagens inerentes às estratégias do jogo de xadrez, que é alheio a cultura destes povos.  

Órgãos do corpo humano em 3D

Outro projeto desenvolvido pelo Labtec que está auxiliando no processo de ensino aprendizagem em sala de aula, são as impressões de órgãos do corpo humano em 3D. A demanda para o desenvolvimento desse material foi feita por professores do curso de Enfermagem da UFT para auxiliar no ensino de anatomia para estudantes com deficiência visual.

As peças são desenvolvidas em tamanho real  e  de acordo com o que está sendo proposto em aula. Através de exames de ressonância magnética disponíveis em bancos de dados públicos, os pesquisadores dos Labtec conseguem reproduzir nas impressoras 3D órgãos saudáveis e doentes, ressaltando as características que estão sendo estudadas. Assim os estudantes com deficiência visual  conseguem, através do tato, compreender melhor não só as explicações dos professores, mas também  as diferenças entre órgãos enfermos e saudáveis.  

Para além dessa aplicabilidade, essas impressões, que também possuem um custo relativamente baixo, podem ser utilizadas por estudantes da área da saúde num primeiro contato com a anatomia em sala de aula. Além disso, as peças podem ser levadas  para  outros espaços educacionais, além do ensino universitário, como por exemplo, serem incorporadas aos  elementos didáticos usados em escolas públicas.

 Os mapas táteis

O desenvolvimento de peças inclusivas feitas pelo Laboratório não fica apenas na área da saúde. O Labtec também vem trabalhando no desenvolvimento de mapas táteis em Braille para facilitar não só o ensino de geografia para estudantes tocantinenses com deficiência visual, mas também ampliar a compreensão espacial dos estudantes da UFT sobre as dimensões do Câmpus da Universidade. Financiado com recursos do Edital Universal de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Propesq) e a partir de ideias dos estudantes de graduação, sob a supervisão do professor Warley,  foram desenvolvidos o Mapa do Tocantins em Braille e uma reprodução em escala real do Câmpus de Palmas com legenda em Braille.

Os projetos e as pesquisas que resultaram no desenvolvimento dos dois mapas foram feitos pelos estudantes Arthur Silva Souza e Guilherme Brandt,  ambos do curso de Ciências da Computação, sob a orientação e coordenação do professor Warley.  As peças já foram avaliadas pelo público alvo  e agora estão expostas no Labtec, juntamente com outras peças que estão sendo desenvolvidas simultaneamente com a continuação desses projetos.  

A importância do Labtec nas palavras do Pesquisador 

De acordo com o professor Warley, as pesquisas e projetos desenvolvidos no Labtec tem capacidade para apresentar soluções tecnológicas para democratizar a educação e ir além dos limites da Universidade. “Os projetos desenvolvidos aqui são de suma importância tanto para a comunidade interna quanto para a comunidade externa, porque alguns projetos de pesquisas desenvolvidos aqui levam  a soluções para a comunidade externa, como por exemplo, esse mapa tátil do campus de Palmas pode se transformar  num mapa tátil de uma escola e auxiliar as escolas que hoje possuem alunos com deficiência visual a terem produtos  para trabalhar no seu cotidiano. Assim como o projeto que a gente desenvolveu também do mapa do tocantins tátil ele pode ser levado para uma escola básica, para que as crianças possam aprender sobre a geografia do estado, usando um produto que foi desenvolvido  aqui, assim como outros objetos pedagógicos  que a gente consegue desenvolver que podem ser usados no aspecto externo também para a comunidade externa”.

Pelas características de todas as pesquisas e projetos que vêm sendo desenvolvidos no Labtec, o professor Warley destaca o potencial do laboratório para atender prontamente às demandas da sociedade. “O Laboratório possui um grande potencial para o desenvolvimento de projetos de extensão, como já demonstrado com as entregas já feitas à sociedade. Então eu acredito que o momento vivido pelo laboratório, que está em plena atividade, coincide com um momento importante para a Universidade, que é a curricularização da extensão, bem como com o nosso PDI que traz como eixo norteador a inovação”.

Sobre a Sexta com Ciência

Sexta com Ciência é uma seção especial de divulgação científica, para você que quer conhecer mais sobre os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pelos pesquisadores da UFT, nas mais diversas áreas do conhecimento. Acesse todas as matérias AQUI!

Esta seção semanal é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Propesq) com a Superintendência de Comunicação (Sucom), em prol da disseminação e popularização da Ciência.

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