Gestores da UFT visitam comunidades quilombolas do Jalapão para discutir ampliação do acesso aos cursos da UAB
Depois da realização da cerimônia de Colação de Grau das turmas dos cursos de Biologia e Matemática, do sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB/UFT), em São Félix do Tocantins, no último dia 14 de abril, o reitor da UFT Luis Eduardo Bovolato, juntamente com os pró-reitores Raphael Sanzio Pimenta, de Pesquisa e Pós-Graduação; Kherlley Barbosa, de Assistência Estudantil; a coordenadora geral da UAB na UFT, Suzana Gilioli; e o coordenador de Polos e Tecnologias da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Alexandre Póvoa, também visitaram as comunidades quilombolas do Prata e do Mumbuca, localizadas nas imediações dos municípios de São Félix do Tocantins e Mateiros, respectivamente.
As visitas, que ocorreram no dia 15 de abril, foram organizadas pelo professor Adriano Castorino, que faz parte da equipe multidisciplinar da UAB na UFT e que atua diretamente com os alunos das duas comunidades. As reuniões tiveram como principal objetivo, discutir, com os lideranças e alunos dos cursos ofertados pelo sistema UAB/UFT, das duas comunidades, as ações necessárias para ampliar o acesso dos estudantes da região às graduações ofertadas pelo sistema UAB. Na ocasião, os gestores da Universidade e o representante da Capes também ouviram as principais demandas dos estudantes no que diz respeito à educação a distância e dialogaram sobre formas de garantir a permanência dos estudantes nos cursos, levando em consideração as dificuldades de deslocamento e acesso à internet vivenciadas pela população da região.
As reuniões dão continuidade ao trabalho de fortalecimento do sistema UAB na região, iniciado com a visita do reitor da UFT e do pró-reitor de Assistência Estudantil às duas comunidades em dezembro de 2022.
Visita à Comunidade do Prata
A primeira reunião do dia foi na Comunidade Quilombola do Prata, localizada no município de São Félix. O encontro, realizado na escola municipal Miguel Rodrigues de Sousa, que fica dentro da comunidade, contou com a presença de lideranças locais, alunos da UAB/UFT da comunidade, potenciais alunos, além de professores da rede municipal que atuam voluntariamente como tutores dos alunos dos cursos de educação a distância ofertados pelo sistema UAB.
Entre os principais pontos discutidos na reunião, estavam medidas para melhorar o acesso dos estudantes da comunidade aos conteúdos disponibilizados nas plataformas do sistema UAB, tendo em vista que o acesso a internet na comunidade é limitado e a maioria dos alunos só tem o celular para assistir às aulas. Outro assunto colocado em pauta durante a reunião foi a dificuldade enfrentada pelos estudantes do Prata para se deslocarem até os polos da UAB/UFT para realizar as atividades práticas.
“Para a gente, tem horas que é muito dificultoso, por exemplo, para acompanhar as aulas presenciais. Eu mesmo tenho vontade de estar junto, mas às vezes não dá. Muitas vezes os instrutores ligam e perguntam 'você vai vir?’ e eu digo ‘não, a gente não tem como ir porque a gente não tem condições de se deslocar daqui, não tem o transporte’. Os instrutores geralmente perguntam se a gente mora tão isolado assim, mas não é isolado, muitas vezes é a condição que faz com que a gente não consiga arcar com as despesas para sair daqui e ir até o polo e acompanhar as aulas presenciais”, ressaltou Luzia Ribeiro, estudante de Química do sistema UAB .
Em sua fala durante a reunião, após ouvir as reivindicações da comunidade no que concerne à educação a distância, o reitor Luis Eduardo Bovolato reafirmou o compromisso da sua gestão, de atuar para a interiorização do ensino superior no Tocantins: “Nosso objetivo é fazer com que a Universidade esteja mais presente no dia a dia de vocês, contribuindo com as diversas possibilidades de ação. Esse é um movimento gradual e até de convencimento para que a gente saia um pouco do nosso gabinete e conheça a realidade do Tocantins”, destacou o reitor.
Após a roda de conversa, os gestores da UFT e demais membros da comitiva da Universidade que acompanhavam a visita foram convidados para um almoço organizado pela comunidade.
Reunião na comunidade Mumbuca
No início da noite do dia 15, a comitiva da UFT se reuniu com lideranças e alunos dos cursos da UAB da Comunidade Quilombola do Mumbuca, localizada no município de Mateiros, que fica a aproximadamente 305km de Palmas. Também estiveram presentes no encontro, alunos da comunidade de cursos presenciais da UFT. A reunião foi realizada na Associação Capim Dourado, que é um dos principais símbolos da comunidade. Na ocasião, a equipe da UFT foi recebida com músicas tradicionais do povoado e poesias recitadas pelos estudantes .
Entre as principais pautas da reunião, estavam formas de auxiliar os estudantes da comunidade a enfrentar as dificuldades de cumprir o cronograma de atividades dos cursos devido os impasses relacionados ao acesso a internet. Além disso, também foram discutidas ações para disponibilizar equipamentos para que os estudantes consigam acompanhar as atividades à distância e também os problemas relacionados ao deslocamento dos estudantes da comunidade para os polos da UAB.
O professor Bovolato também frisou em sua fala, na reunião, os objetivos de estreitar os laços com a comunidade: “É um prazer imenso retornar aqui na comunidade do Mumbuca. Então nesse retorno, desde nossa primeira visita, tanto eu quanto o professor Kherlley procuramos amplificar as impressões que tivemos e sensibilizar os colegas de gestão sobre os desafios que temos enquanto Universidade, para criar as condições favoráveis e estimular o ingresso dos alunos da comunidade. Então, nosso propósito aqui é construir um espaço mais favorável, diria até menos áspero e árido , para que ninguém fique pelo caminho, para que todos consigam chegar todos juntos, não só na educação à distância, mas também na educação presencial. Então nossa visita tem esse sentido”.
Dona Noemi Ribeiro, mais conhecida como doutora, liderança da comunidade, ressaltou durante a reunião a importância da visita dos gestores da UFT ao Mumbuca: “Eu agradeço a cada um de vocês que estão aqui. É muito importante essa reunião, isso é um progresso para as quatro gerações que estão aqui e que estão nesse projeto de estudo. Isso é uma riqueza que a gente não consegue expressar, porque é muito fundamental. Acredito que os alunos estão de parabéns, agora é agarrar essa oportunidade e não deixar no meio da estrada e chegar lá no sonho que nossos antepassados deixaram”.
Após a reunião, toda equipe da UFT receberam lembrancinhas e Capim Dourado e foram convidados para um jantar organizado por toda a comunidade na residência de dona Noemi Ribeiro.
As impressões dos gestores e dos participantes das reuniões
Após o dia de reuniões gestores e estudantes comentaram as expectativas e impressões deixadas pelas visitas. O reitor, Luis Eduardo Bovolato, destacou como ponto principal dos encontros, a participação de Alexandre Póvoa, da Capes, que cuida especificamente da gestão de ações relacionadas ao programa Universidade Aberta do Brasil. Para o professor Bovolato “A presença do representante da Capes foi extremamente importante para que ele pudesse conhecer in loco a realidade de nossos estudantes, suas principais dificuldades e necessidades e, assim , pensar em soluções que se adequem a estas diferentes realidades”.
A professora Suzana Gilioli, coordenadora da UAB enfatizou que todos os gestores vão se empenhar para garantir aos alunos das duas comunidades acessem plenamente os cursos da UAB: “A gente ouviu as demandas dos estudantes e a gente espera conseguir mudar pelo menos um pouco a realidade deles. E a partir disso, a gente já teve algumas conversas durante a viagem mesmo, tanto com o Alexandre da Capes, com o reitor, com os pró-reitores e cada um vai tentar fazer um pouquinho, dentro dos limites de suas atuações. Com a gente falou para eles, a gente vai tentar e como todos se emocionaram bastante e gente vai trabalhar para colocar em prática soluções para melhorar o acesso deles aos cursos”.
“Foi a primeira vez que eu visitei uma comunidade quilombola e eu vi que esses momentos de visita em campo são muito necessários porque a realidade e a linha de atuação que a gente realiza no dia a dia acaba que não contempla as realidades distintas do padrão como essa das comunidades quilombolas. E às vezes, não adianta alguém ir lá a Brasília e nos explicar como que é o estilo de vida e o dia a dia das pessoas aqui, e vir aqui e ver com os próprios olhos e conseguir entender quais são os problemas para conseguir saber quais alternativas que estão ao nosso alcance para proporcionar um melhor curso para essas pessoas faz toda diferença. O que eu vou levar dessa viagem é o valor do trabalho que estou fazendo e como eu posso atuar para proporcionar um melhor curso para os estudantes do interior tendo em vista as suas dificuldades”, destacou Alexandre Póvoa, da Capes.
O professor Adriano Castorino, que atua diretamente com os alunos da região também destacou a importância das reuniões com a comunidade e, principalmente a presença de Alexandre Póvoa: “As reuniões são muito importantes e a vinda do Alexandre é importante primeiramente para a pessoa dele, pensando ele como pessoa, para ver como as coisas reagiram nele, então eu acredito muito que afetividade e a empatia podem produzir melhores políticas públicas, porque não pode haver só critérios técnico. Então ele vindo aqui e conhecendo essa realidade, vai permitir que quando ele tiver uma oportunidade de falar em Brasília ele vai levar a experiência não de quem ouviu falar, mais de que viu e conheceu”.
Dona Maria Francisca de Sousa, matriarca da comunidade do Prata, falou das suas expectativas quanto às visitas: “Eu estou muito feliz do pessoal da UFT ter vindo conhecer a nossa realidade e conhecer os nossos objetivos, porque nós temos muita ansiedade para fazer cursos, eu não, mais minha juventude estão todos querendo fazer cursos e melhorar a situação da comunidade, que para nós, é muito difícil. Então eles terem vindo aqui e conhecido a nossa realidade eu espero muito que vai melhorar, vou dormir sonhando com isso”. As palavras de Marijani Ribeiro, primeira pessoa da comunidade do Mumbuca a se formar em um curso de nível superior, também vão de encontro com as de dona Maria no que se refere às expectativas a partir das visitas: “É especial isso que está acontecendo. todos terem vindo, ouvido as propostas de cada um, eles estão aqui, estão vendo a realidade sabendo da boca de cada um o que querem, o que precisam. Então para mim é muito gratificante e fica a esperança de que as coisas vão melhorar”.
A presença dos gestores da UFT nas comunidades também representam sonhos, como o de Amélia Alves de Sousa, moradora da comunidade do Prata: " Eu sou nascida e criada aqui no quilombo e foi um privilégio receber o reitor e a vinda do Alexandre também, porque para a gente foi muito gratificante porque foi uma reunião muito produtiva e a gente espera que tragam resultados para a gente porque nós temos muitos sonhos e muita vontade de crescer . Então esperamos que essas discussões aqui tragam bons resultados para a comunidade". Esse desejo desenvolvimento da comunidade a partir da educação também foi expresso nas palavras de Rosirene Ribeiro Rocha, mãe de potenciais alunos da UAB. Ela destaca que, um de seus maiores desejos é ver os filhos cursando o ensino superior pertinho dela e da comunidade e a visita dos gestores representa isso: " Eu fico muito feliz do povo vir aqui visitar a gente e a nossa comunidade. Isso é muito bom para a comunidade porque eu, por exemplo, estou com a minha menina para estudar e Deus vai abençoar que ela vai consguir aqui e meu menino também está estudando. Então eu vou ficar muito feliz se eles continuarem aqui pertinho de mim e estudando com qualidade".
Para Mônica Strege, professora de Biologia da rede pública estadual do Mato Grosso, que atuou como voluntária na revisão dos Trabalhos de Conclusão de Curso dos formandos da turma de Biologia, a realização das reuniões na comunidade, ouvindo e vendo de perto a realidade dos alunos que cursam o ensino superior na educação à distância amplia as “Essa visita é importante porque quando começamos a conhecer do Brasil, que tem dimensões continentais, quando nós saímos e abrimos as portas e começamos a conhecer histórias e pessoas com histórias tão diferentes eu acredito que amplia possibilidades. E as meninas tem muito a contribuir com as pesquisas então a vinda deles aqui dá visibilidade para elas e para a pesquisa se abre uma porta”.
Após o cumprimento de toda a agenda, a equipe da UFT retornou à Palmas, no dia 16 de abril.
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