Projeto do Câmpus de Porto Nacional visita escola Xerente, com proposta pioneira de acolhimento
“No começo é tudo muito difícil, uma realidade totalmente diferente da nossa... Mas, com o passar dos semestres, vai dando certo esta busca pelo conhecimento, pelo aprendizado”, conta Gerivan Samuru Xerente, estudante do 3º período de Pedagogia do Câmpus de Miracema. Ele já conhece os altos e baixos de um indígena que sai de sua comunidade, sua aldeia, em busca de uma graduação. “A sociedade ainda nos vê como ‘coitadinhos’, e continua essa estereotipia de que não temos a capacidade de estar na Universidade”, destaca.
Gerivan voltou, mês passado, à escola onde concluiu seu Ensino Básico: o Centro de Ensino Médio Indígena Xerente (Cemix) Warã - localizado em sua aldeia natal, no município de Tocantínia. Soube que uma equipe da Universidade Federal do Tocantins (UFT) iria ao Cemix para um evento de acolhida aos calouros indígenas do semestre letivo de 2023/1. Ele, que sabe o quanto um bom acolhimento pode fazer a diferença na trajetória do estudante indígena universitário, quis conferir de perto a visita.
Os visitantes foram os integrantes do projeto piloto “Acolhimento e Permanência de Estudantes Indígenas e Quilombolas”, do Câmpus de Porto Nacional, acompanhados pelo reitor da UFT, Luis Eduardo Bovolato, o pró-reitor de Assistência Estudantil, Kherlley Barbosa e outros membros da Reitoria.
O grupo foi ao Cemix no mês de março (01), antes do início das aulas da graduação, para realizar duas ações do Projeto: uma palestra à comunidade escolar, apresentando a UFT - e, em especial, os serviços institucionais de apoio da Assistência Estudantil – e uma reunião de acolhida aos calouros indígenas, da UFT, que concluíram o Ensino Médio naquela escola.
“O Câmpus de Porto Nacional é muito preocupado com a forma como a UFT tem recebido os seus estudantes indígenas e quilombolas”, afirma Laranna Prestes, chefe da Divisão de Estágio e Assistência Estudantil daquele câmpus. “Este projeto piloto tem o objetivo de fazer o acolhimento e acompanhar o estudante indígena e quilombola durante todo o seu percurso acadêmico, para que ele tenha êxito na sua formação”, explica.
O Projeto é uma parceria entre o Câmpus de Porto Nacional – por meio de sua Divisão de Estágio e Assistência Estudantil (Diest) -, a Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Proest), a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) e a Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários (Proex).
Acolher as diferenças
Para os idealizadores do projeto piloto “Acolhimento e Permanência de Estudantes Indígenas e Quilombolas”, o acolhimento é parte essencial para que, de fato, ocorra a permanência e o reconhecimento do pertencimento desses estudantes na universidade. O acolher deve, pois, considerar as diferenças – aspectos, segundo as diretrizes do Projeto, relativos às práticas, aos costumes e aos valores característicos dos povos indígenas e quilombolas.
“A visita nos permite conhecer mais sobre a realidade desses alunos. Conhecer e dialogar. Saber mais sobre seus problemas, sua dificuldades, as questões que, muitas vezes, podem limitar não somente o ingresso, mas a permanência do estudante indígena na Universidade”, destacou o reitor da UFT, Luis Eduardo Bovolato.
Saudades de casa, dificuldades com o idioma português e outros desafios
“Estou bem”, responde Fernando Xerente, cerca de um mês depois daquela visita da UFT ao Cemix e, agora, já estudante de Letras, no Câmpus de Porto Nacional. “Só a saudade da minha família, minha casa, da aldeia...”, conta o calouro, que também relata ter sido bem acolhido no Câmpus, pela equipe da Diest. “A assistente social foi bem atenciosa no acolhimento, e isso foi muito importante pra mim, porque eu me senti bem tranquilo”, conta.
E as aulas? Fernando diz estar gostando, mas, à medida que os conteúdos das disciplinas avançam, os primeiros desafios surgem. “Estou indo para as aulas, até agora está tudo mais ou menos... Digo isso porque algumas atividades, trabalhos para mim, como sou indígena, eu tenho muita dificuldade nas leituras, interpretações de textos... São difíceis para mim... Eu vou precisar de um monitor para me ajudar”, relata ele.
Marcilene Smikidi Xerente, também caloura de Letras no Câmpus de Porto Nacional, lembra com entusiasmo daquela visita da UFT ao Cemix. “Eu achei muito importante e linda a atitude do pessoal da UFT. Terem visitado o Cemix, comparecido para tirar as dúvidas dos calouros, isso ajudou bastante para nós irmos mais confiantes para a Universidade”, diz.
Por enquanto, Marcilene tem sentido, no Câmpus de Porto Nacional, o sentimento do acolhimento que o Projeto Piloto quer proporcionar a cada estudante indígena e quilombola que ingressar na instituição. “Estou sendo bem acolhida, os professores são maravilhosos, o pessoal da Coordenação, Assistência Social, Secretaria... Só tenho que agradecer, estão me ajudando muito! É muito gratificante para mim estar aqui, eu, uma indígena acadêmica de Letras”, ressalta a estudante.
Aipkê toisnã wê aisinã kwaba: as boas-vindas Xerente à primeira visita de um reitor
“Não esperava, né?”, conta, sorrindo, o diretor do Cemix, Armando Sõpre. “Quando a gente viu, ali, o reitor chegando... Eu não imaginava que, um dia, um reitor da UFT viria aqui no Cemix, na aldeia!”, complementa.
De fato, a ida ao Cemix da aldeia Xerente de Tocantínia é um marco importante para a UFT: esta é a primeira visita de um reitor da instituição a uma aldeia indígena tocantinense. O objetivo foi conhecer mais de perto a realidade da comunidade indígena para melhor atender as suas demandas em relação ao ingresso de alunos indígenas na UFT.
Segundo Bovolato, “a Universidade deseja estar mais próxima dessas comunidades”. Para Sõpre, este primeiro encontro foi bastante positivo. “O Cemix comemora a vinda do reitor e sua equipe da UFT. Isso vai facilitar o intercâmbio, o diálogo entre o Cemix e a UFT, o acesso e permanência de nossos estudantes que estão passando no Vestibular da instituição”, afirma.
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