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ENTREVISTA

Pós-Verdade é tema de palestra de pesquisador francês nesta 2ª, em Palmas

Por Daniel dos Santos| Revisão: Paulo Aires | Publicado: Segunda, 07 de Outubro de 2019, 13h02 | Última atualização em Segunda, 07 de Outubro de 2019, 18h36

Nesta segunda-feira (7), uma das grandes questões contemporâneas será abordada na palestra Conhecimento e Ignorância na Era da Pós-Verdade, ministrada pelo pesquisador francês Michel Thiollent. A palestra será realizada gratuitamente no Centro Universitário Integrado de Ciência, Cultura e Arte (Cuica), no Câmpus de Palmas, às 19h. O evento é promovido pelo Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (Profnit) e pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão "Observatório de Pesquisas Aplicadas ao Jornalismo e ao Ensino" (Opaje).

Radicado no Brasil há 44 anos, Thiollent é sociólogo e trabalhou na UFRJ por 31 anos até 2011, e na Unicamp entre 1975-1980. Segue a entrevista concedida por ele à Superintendência de Comunicação (Sucom) da UFT.

1 O tema de sua palestra é Conhecimento e Ignorância na Era da Pós-Verdade. Fale sobre a sua palestra.
Michel Thiollent -
O termo pós-verdade é recente. Foi oficialmente divulgado no dicionário inglês (post-truth) a partir de 2016. Na civilização ocidental estamos acostumados com o papel da ciência e a função de verdade. Mas em função de certos fatos políticos acontecidos nos EUA e depois na Europa, percebemos que cada vez menos a noção de verdade é importante. Nesta nova etapa, o importante é falar. Sem se preocupar com verdade. Pode-se dizer até mesmo mentiras. Começou a ser aceito nos meios políticos com a propagação de informações que são verdadeiramente falsas. Isso levou às fake news. Isso é diferente de outros momentos porque passou a ser aceito. Toda uma decodificação não só da verdade, como também da ciência. Na pós-verdade, o que importa é o discurso do poderoso, que quer estabelecer novas verdades. É um retrocesso da razão e uma minimização da verdade na história da humanidade.

2 A gente percebe que a pesquisa, a imprensa e a democracia vêm sendo muito fragilizadas. Você acha que a pós-verdade é planejada justamente para a fragilização da democracia?
Michel Thiollent -
 Não sei se existe uma intencionalidade. A ideia de democracia pressupõe um discurso público transparente, com verdade e informações que possam ser verificadas. Mas nesta era de pós-verdade, há uma confusão de não transparência das fontes e justificada na área política a tomada de decisões que não são democráticas. Essa ideia está associada ao crescimento do conservadorismo e da extrema direita.

3 Parece que as pessoas se alienaram da imprensa e do conhecimento e perderam uma referência de fonte de verdade. Qual é a consequência disso?
Michel Thiollent -
 A desqualificação da intelectualidade. Criticando a verdade, foi diminuída a importância da ciência e da democracia. O cientista e seus métodos foram minimizados. Na imprensa, agora tudo é fake news. Então não existe verdade.

4 Existe um caminho de volta para essas pessoas que se alienaram?
Michel Thiollent -
 O que substitui a verdade e a razão para muita gente é a crença, a fé. As opiniões, sem demonstrações, também ganham peso. É um regresso da noção de conhecimento e voltamos à ignorância. Antes a ignorância era associada à pessoa que não teve acesso à educação, o analfabeto. Agora uma pessoa pode ser doutora e ser ignorante. Porque sabe algo muito limitado em sua área, mas a visão de mundo é de completa ignorância.

5 Como você avalia a reação a esse ambiente? Tem sido suficiente?
Michel Thiollent -
 Atualmente, a pós-verdade ainda está em uma fase crescente em vários países. Claro que tem a reação. Nas universidades, cabe a nós sermos críticos. Do ponto de vista intelectual é possível defender a verdade. Isso não é partidário. Temos que reestabelecer o compromisso com a ciência e cortar essa via de atração para o irracional. Porque isso já existiu na época do nazismo e do fascismo.

6 É possível fazer uma autocrítica? Onde nós erramos?
Michel Thiollent -
 Existem vários “nós”. Mas nós progressistas tivemos muitos erros. Muita prepotência. Uma certa arrogância: “nós temos a razão”. As principais doutrinas e práticas dos anos 40 aos anos 2000 precisam ser revisadas e criticadas. Toda a evolução do sistema acadêmico fez com que muitas pessoas não pensem nisso. Pensem apenas na carreira, no paper que tem que publicar em uma revista. Muita gente produz coisas sofisticadas, mas que não têm relevância social. Ser intelectual no sentido crítico exige um certo voluntarismo. Independentemente de cortes do governo na área de pesquisa.

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