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Entrevista com a diretora de ações afirmativas da UFT sobre o Dia da Consciência Negra

Por Cynthia Barreto | Edição: Samuel Lima | Publicado: Segunda, 19 de Novembro de 2018, 23h00 | Última atualização em Terça, 20 de Novembro de 2018, 09h16

Em alusão ao Dia da Consciência Negra, a coordenadora de Ações Afirmativas da Pró-reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários destacou, em entrevista concedida à jornalista Cynthia Barreto, da Superintendência de Comunicação da Universidade Federal do Tocantins (Sucom), a importância da data para a comunidade afrobrasileira, o momento pelo qual o país passa em relação ao racismo e sobre as ações afirmativas que a Universidade têm empreendido no sentido do combate à este problema social.

Confira a entrevista, abaixo:

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Solange é coordenadora de Ações Afirmativas da UFT (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)Solange é coordenadora de Ações Afirmativas da UFT (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)Como pesquisadora na área de identidade, cultura e territorialidade das comunidades quilombolas, o que a data Dia da Consciência Negra representa para a comunidade afro-brasileira?

Antes de tudo o reconhecimento do legado, da cultura e da própria existência da população negra, uma vez que a história do Brasil é construída a partir da invisibilização e negação da memória e da história do negro na construção do país. É um momento de reflexão sobre a condição do negro na contemporaneidade e sobre os desafios que a população negra ainda enfrenta na atualidade.

Sabendo que a data é um momento de reflexão, combate ao racismo e ações afirmativas, o que a universidade tem feito nesse sentido para inserir no dia-a-dia da comunidade acadêmica reflexões sobre esse tema, combate ao racismo e etc?

A universidade tem um longo caminho ainda a trilhar no enfrentamento ao racismo. Entendo que a universidade é atravessada pelas relações, embates e tensionamentos presentes na sociedade, dessa forma as múltiplas formas de negação do outro também perpassam o espaço universitário, seja no currículo, nas escolhas epistemológicas, nas posturas conservadoras, coloniais e racistas com as quais nos deparamos rotineiramente. Dada a sua natureza, coabitam nesse mesmo espaço práticas, ações, grupos de cultura popular, de pesquisa e extensão que se contrapõem ao pensamento hegemônico eurocêntrico. Construindo propostas de enfrentamento ao racismo, às violações dos direitos desses alunos. A ideia de uma universidade múltipla, com protagonismo de mulheres e homens negros ainda é um grande desafio na UFT e no Estado do Tocantins, por ser um lugar com fortes traços ainda do patriarcado e do colonialismo.

Na sua opinião, qual o papel da Universidade no combate ao racismo?

A universidade tem o dever social de promover a equidade racial, de abordar os saberes afrodiaspóricos, de reconhecer a produção intelectual de pesquisadores negros e construir no espaço universitário uma cultura de respeitabilidade, equidade e valorização da diversidade.

Qual o principal desafio que o Tocantins enfrenta no combate ao racismo?

Embora o Estado do Tocantins tenha em torno de 57% da população afrobrasileira se caracteriza como um Estado excludente para as populações negras. O Estado possui em torno de 45 comunidades quilombolas que sofrem uma série de violações de seus territórios impetradas por grandes empresas de mineração e o agronegócio. Para, além disso, o Estado apresentou, segundo o Mapa da Violência de 2015, o aumento nos casos de feminicídio das mulheres negras em 71%, quanto ao trabalho doméstico infantil o Estado está entre um dos mais altos índices de trabalho análogo ao escravo, cujas principais pessoas afetadas é a população negra. Ou seja o estado do Tocantins não possui políticas de promoção da equidade e igualdade racial. A efetivação de políticas nesse sentido é de fundamental importância para a redução dos índices de violência, para a inserção dessas pessoas na sociedade e na valorização do legado histórico cultural da população negra.

Sobre os estudos acerca da Identidade, Cultura e Territorialidade das Comunidades Quilombolas no Estado do Tocantins, qual o foco? como contribui para a Consciência Negra?

O trabalho desenvolvido junto às comunidades quilombolas vem no sentido de reconhecer e valorizar os saberes tradicionais dessas comunidades transmitidos de uma geração a outra por meio da oralidade, por aqueles que nomeio como “ guardiões da memória”, ou seja os mais velhos que detêm a memória da comunidade e compartilham seus saberes e suas experiências com as novas gerações.

Nesse sentido a relação das comunidades com o território está para além do uso da terra, mas está marcada pela estreita relação que as comunidades têm com seu território como lugar ritualístico, de memória de seus ancestrais e o significado que as matas, os rios, as fontes, as ervas possuem. Assim território, cultura e identidade estão intrinsecamente ligados, em uma relação holística que contrapõe a relação depredatório do pensamento branco europeu.

 

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