Ei, universitário, vamos falar de saúde mental na universidade?
Esse sofrimento silencioso, e muitas vezes invisível, resulta em dados preocupantes sobre a saúde mental dos estudantes, no contexto universitário. Na UFT, por exemplo, de acordo com dados levantados pela psicóloga Hareli Cecchin, durante sua pesquisa de doutorado em prevenção ao suicídio, pela Universidade de Brasília (UnB), é expressivo o número de estudantes que relatam estar sofrendo com algum transtorno de ordem mental. A tese, que foi defendida no final de 2022 e deve ser publicada no repositório institucional da UnB, nos próximos meses, traz um alerta principalmente para os casos de ideação suicida entre a comunidade acadêmica.
Hareli, que atua no setor de Assistência Estudantil do Câmpus da UFT em Miracema, usou como base de seu estudo, informações do banco de dados de beneficiários do Auxílio Saúde (PSaúde), benefício oferecido pela UFT para que estudantes em situação de vulnerabilidade econômica custeiem tratamentos na área de saúde mental. Ao analisar essas informações a psicóloga constatou que, além da ansiedade e depressão, que são os transtornos mais observados no âmbito universitário, mais da metade dos beneficiários do Psaúde apresentam ideação suicida, ou seja, já pensaram em suicídio devido a condição de sofrimento psicológico em que se encontram.
Para entender os fatores que levaram os estudantes a desenvolverem pensamentos dessa natureza, a psicóloga também realizou entrevistas em profundidade com vinte desses estudantes de diferentes câmpus. Através das conversas, Hareli observou que a maioria das respostas estavam vinculadas a questões emocionais já vividas pelos estudantes e que são potencializadas pelo ambiente universitário. “A mudança de cidade, a solidão, a perda dos vínculos de amizade, o distanciamento da família, questões de ordem financeira, somados à pressão do ambiente universitário, compõem a maioria das respostas”, destaca a psicóloga.
Segundo Hareli, os estudantes também relatam como questões agravantes ao estado emocional, a sensação de falta de acolhimento no ambiente universitário, a dificuldade de relacionamento com professores e colegas, as inseguranças relacionadas aos cursos escolhidos e a falta de atividades em grupo que proporcionem momentos de integração entre a comunidade acadêmica. A pandemia de Covid-19 também é apontada pela psicóloga como um fator que acentuou os problemas de saúde mental já enfrentados pelos universitários: “Depois da pandemia, todo mundo está precisando de ajuda em relação à saúde mental, as pessoas passaram a perceber mais importância dessa área”.
As constatações feitas por Hareli em sua pesquisa também são observadas por outras profissionais da Psicologia que trabalham diretamente no atendimento aos estudantes, na área de saúde mental, nos câmpus da UFT. É o que destaca Flávia Neves, psicóloga que atua no Câmpus da UFT em Gurupi. Segundo ela, os períodos que antecedem e sucedem as provas geram altos números de atendimento, principalmente de estudantes que já estão sofrendo por outras questões e ainda se preocupam com o rendimento acadêmico: “Às vezes a pessoa é bolsista, ela depende daquela bolsa, ou seja, depende de manter o desempenho acadêmico para continuar recebendo a bolsa, então o desempenho acadêmico é um agravante, mas ele não é a motriz”.
(Continua na próxima quarta-feira, 05 de abril)
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