08 de março: uma reflexão sobre o papel da universidade na luta pelos direitos das mulheres
Mulheres da comunidade acadêmica da UFT falam sobre papel da educação superior na luta pela equidade de direitos na sociedade
O Dia Internacional da Mulher, celebrado anualmente em 08 de março, é fruto da luta histórica das mulheres pela equidade de direitos na sociedade. Se hoje as mulheres podem estar no mercado de trabalho, votar, serem votadas, praticar esportes como o futebol e até mesmo estudar é porque, ao longo da história, outras mulheres se mobilizaram para que esses e outros direitos fossem garantidos. As reivindicações de direitos, pelas mulheres, são registradas em diferentes momentos históricos, mas as mobilizações ganham força com a Revolução Industrial. Por isso, a origem de uma data mundial de reconhecimento das mulheres está muito vinculada ao movimento operário.
As raízes históricas do 08 de Março remontam para o início do século 20, período em que as mulheres não tinham direito ao voto, não acessavam plenamente a educação formal, eram submetidas a condições degradantes e jornadas exaustivas de trabalho nas fábricas e recebiam salários muito inferiores aos homens no exercício das mesmas funções. Foi nesse contexto que em 1910, Clara Zetkin, alemã, socialista, conhecida por lutar pelos direitos das mulheres trabalhadoras, propôs, durante a II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, a criação de uma data especial para as mulheres, com objetivo inicial de reivindicar o voto feminino e melhores condições de trabalho.
A partir de então, a ideia se espalhou e mulheres começaram a se organizar em vários países, a princípio em datas diferentes, entre elas o 08 de março, para reivindicar principalmente seus direitos políticos e trabalhistas. Mas o Dia Internacional da Mulher só foi oficializado 65 anos depois de sua proposição, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o ano 1975 como Ano Internacional da Mulher e instituiu o 08 de março como data para lembrar as conquistas e dar continuidade às reivindicações das mulheres por um espaço de mais equidade social. De lá para cá, a luta continua e, embora as mulheres ainda enfrentem diariamente as estruturas de privilégio que beneficiam os homens, houveram avanços significativos. E a educação, sobretudo a superior, tem um papel fundamental nessas conquistas, principalmente no que diz respeito ao entendimento de que as mulheres são plurais.
O papel da universidade na luta das mulheres sob a perspectiva de mulheres da UFT
Para a professora Solange Nascimento, que é a atual coordenadora de Ações Afirmativas da UFT, a educação como um todo é primordial para que haja mudança social e para a consolidação das reivindicações das mulheres: “A educação tem papel importantíssimo no processo de fortalecimento das mulheres. Sobretudo se estiver pautada em princípios não sexistas e que potencializem a inserção das mulheres em todas as áreas de formação e atuação”. A professora Solange também ressalta a capacidade da universidade proporcionar um maior grau de liberdade e independência para as mulheres: “A universidade se constitui como um espaço que deve fortalecer as pautas das mulheres, ampliar sua possibilidade de inserção social e política, além de construir possibilidades de superação da exclusão social e econômica dessas mulheres, como uma forma de superar ciclos de violência de diferentes ordens”.
Mas ela também reforça que a universidade ainda precisa avançar, principalmente no que diz respeito à permanência das mulheres no ambiente universitário: “Hoje podemos afirmar que há um número muito significativo de mulheres no ensino superior. Em algumas universidades, como a UFT, por exemplo, há mais mulheres na graduação e na docência também. Entretanto, as mulheres enfrentam ainda dificuldades na garantia da permanência na universidade. Seja por práticas misóginas, assédio moral e sexual ou segurança. Além disso, é necessário equidade de gênero nos espaços de chefia nas universidades. A maioria dos espaços decisórios ainda são ocupados em sua maioria por homens”.
É o que também pontua a professora Clarissa Machado, que atua no Câmpus da UFT em Arraias. Segundo ela, o fato das mulheres acessarem a educação formal e posteriormente o fato de terem a possibilidade vivências plurais dentro da universidade, a partir de políticas como a de cotas, potencializou as vozes femininas: “A educação tem papel transformador na vida das pessoas, principalmente na vida das mulheres que, historicamente foram excluídas do direito à educação. Poder estudar, e ser agente participante dos ambientes de ensino é uma conquista que impacta na luta por direitos.Tivemos muitos avanços em relação à conquista de direitos na Universidade, a democratização do acesso com a política de cotas raciais, escolas públicas, indígenas, quilombolas, foi uma grande vitória, além de contribuir com o acesso ao ensino público superior, permitiu a integração das lutas das mulheres”.
Mas a professora Clarissa também reconhece que é necessário melhorar: “É preciso que melhore as condições de permanência das mulheres na Universidade, sejam elas estudantes, professoras e servidoras da administração, trabalhadoras em geral. A instituição de políticas públicas que colaborem com as mulheres que são mães, líderes comunitárias, que cuidam de familiares, entre outros, para que as mesmas não abandonem a universidade é uma medida importante. Outra contribuição necessária e urgente é combater a cultura do assédio, seja ele moral, sexual ou ambiental, assunto que ainda é um tabu na sociedade e pouco falado na universidade. Assim, seguiremos sempre, unidas e lutando, até triunfar!”
Gleys Ramos, professora do Curso de Relações Internacionais do Câmpus da UFT em Porto Nascional e coordenadora do Observatório Feminista Outras, destaca que a educação universitata permite um aprofundamento das tematicas e por isso, se torna muito importante na luta das mulheres: “Eu acredito que a gente só consegue a transformação social através da educação. E aí, o papel da educação universitária é um mergulho profundo nas questões sociais, principalmente aquelas ligadas às mulheres. Então, por exemplo, não dá para a gente estar na universidade e não entender o conceito de patriarcado ou da própria perspectiva do capitalismo, enquanto sistema social, que submete mulheres a ganhar salários menores, a terem trabalhos mais precários e jornadas mais pesadas e mais jornadas que os homens. Então a educação universitária representa, para mim, um mergulho profundo, para a gente entender as raízes dos problemas que subordinam as mulheres, não aos homens, porque sempre se coloca que é um subordinação aos homens, os homens são os privilegiados, mas nos subordinam há um sistema que não permite que a gente cresça enquanto coletivo”.
A estudante de Medicina Bruna Yasmin Santos Martins também frisa que a universidade é um espaço que tem uma função social muito importante, de desconstrução de estereótipos e entendimento de que as mulheres são diversas e possuem demandas diferentes: “A educação possui potencial para a transformação de indivíduos e de coletivos, principalmente a educação universitária quando feita de forma crítica e contextualizada. Além de ser um lugar de ensino e aprendizado é também um espaço em que vivências plurais se encontram e permite que outras realidades sejam entendidas. Isso é claro, se possível o respeito e a aceitação. Isso é importante porque não basta aprender em teoria sobre as questões de gênero para que estas sejam superadas, é preciso que se interaja com essa população. Principalmente quando se considera a interseccionalidade e se entende que as necessidades de uma mulher branca são diferentes das de uma mulher negra, que são diferentes das de uma mulher trans, que são diferentes das de uma mulher PCD que são diferentes das de uma mulher que acumula mais de uma dessas características”.
Enquanto mulher indígena, Vanda Sibakadi Gomes Da Silva Xerente, que está concluindo o curso de Serviço Social no Câmpus da UFT em Miracema, destaca que a universidade ainda precisa trabalhar para que muitos preconceitos em relação às mulheres indígenas sejam superados, mas ressalta a importância de estar no ambiente acadêmico e contribuir que essas mudanças aconteçam: “Nós mulheres indígenas, em especial do povo Xerente, estamos quebrando o paradigma do patriarcado. Veja só o monte de mulheres indígenas estudando na faculdade, isso faz toda a diferença”. Mariana Félix, estudante de Jornalismo da UFT também acredita no poder transformador da universidade: “Hoje eu me vejo na universidade, tendo as oportunidades que minha avó, minhas antepassadas não tinham. Eu me sinto muito orgulhosa de estar aqui por elas, batalhando por elas, por mim também e por todas nós, porque ter conhecimento é ter poder. Nós somos muito poderosas. Então a educação é necessária e uma das conquistas mais lindas dentro da nossa luta”. Para Mariana "A educação como um todo é revolucionária na nossa luta, porque foi uma conquista muito significativa. Porque hoje, a gente tem a oportunidade de ter uma formação, buscar mais conhecimentos e se especializar em áreas o mundo diz que não são para a gente e mostramos que são para a gente sim".
É o que também pontua a também estudante de Jornalismo Wanda Almeida Citó. Ela destaca que a universidade é um recorte da sociedade, por isso é imprescindível que esse ambiente seja plural e que dê oportunidade para essa pluralidade se reflita na sociedade: “Falando da minha perspectiva como travesti, eu não quero sentir que estou ocupando um espaço. Muito se fala em ocupar espaço, que é importante ocupar espaços, só que eu não queria sentir que estou ocupando um espaço, porque dá a entender que estou tomando de outra pessoa um espaço que é meu, principalmente quando se fala em relação à universidade pública. Por isso, é muito importante que tenham várias de mim, como eu e diferentes de mim também, para que eu me sinta vista e me sinta pertencente, e não só no corpo discente. Eu quero professoras travestis, eu quero uma coordenadora, uma psicóloga, uma assistente social”.
Confira a programação completa do 08 de março na UFT
A programação em referência ao Dia Internacional das Mulheres se estende por todo o mês de março na UFT. As atividades são fruto da mobilização da professora Solange Nascimento, atual coordenadora de Ações Afirmativas da UFT, juntamente com um coletivo de mulheres de todos os câmpus da Universidade. As atividades são abertas para toda a comunidade acadêmica e as inscrições podem ser feitas através do formulário eletrônico. Todos os participantes receberão certificado.
Confira a programação:
Câmpus de Arraias
08/03
Seminário: “Fortalecimento de ação Política Coletiva das Mulheres Negras no Tocantins” |
Mostra: Produções sobre Questões de Gênero - Murais da UFT de Arraias |
Local: Bloco 3P |
Câmpus de Gurupi
13/03
Atividade: Intervenção Árvore dos Sonhos |
Local: RU |
Horário: 11h30 às 14h00 |
17/03
Atividade: Roda de Conversa “Egressas da UFT no Mercado de Trabalho” |
Local: Auditório do Bloco G |
Horário: 08h00 às 11h00 |
Câmpus de Miracema
08/03
Atividade: Exposição mural “Mulheres que Inspiram” e Foto varal “Mulheres da Psicologia” |
Local: Hall da Unidade Warã |
Horário: 09h00 |
18/03
Atividade: Ato Público pela vida digna de todas as mulheres |
Local: Praça Mãe Domingas (Concentração Unidade Warã) |
Horário: 16h30 |
Câmpus de Palmas
07/03
Atividade: Mulheres, Cidades e Resistências |
Local: Bloco 1, sala 107 |
Horário: 09h00 |
08/03
Atividade: Roda de Conversa “Mulheres na Economia” |
Local: Bloco A, sala 7 |
Horário: 09h40 e 20h30 |
Atividade: Roda de Conversa "Gênero e Perspectiva Racial no Direito" |
Local: Auditório da Reitoria |
Horário: 20h30 |
10/03
Atividade: árvore dos Desejos & Pomar das Mulheres: o que você deseja para as mulheres |
Local: Cantina próximo à Biblioteca |
Horário: 09h00 |
15/03
Atividade: Roda de Conversa “Vamos falar sobre assédio?” |
Local: Auditório do CUICA |
Horário: 14h30 |
25/03
Atividade: Seminário de Proteção Social: Violência sexual de crianças e adolescentes |
Local: Setor Taquari |
08/03
Atividade: Plenária de Abertura "Equidade de Gênero nas Instituições” |
Horário: 09h00 |
Atividade: Cerimônia de Identificação das Alamedas Simbólicas |
Horário: 11h00 |
Atividade: Mesa Redonda “Pioneiras Internacionalistas Rebeldes e Indomáveis: mulheres que fizeram e fazem história” |
Horário: 15h00 |
09/03
Atividade: Plenária de Mediação: Justiça Reprodutiva e as Legislações Internacionais |
Horário: 15h00 |
Atividade: Intervention Feminist- Abastecimento de banheiros feministas |
Horário: 16h30 |
10/03
Atividade: Plenária Final: assédio sexual e abusos nas relações acadêmicas |
Horário: 15h00 |
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