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ARAGUAÍNA

Mestrados estudam cultura, escrita e oralidade índigenas

Escrito por Paulo Aires | Publicado: Jueves, 27 Abril 2017 16:19 | Última actualización: Jueves, 27 Abril 2017 18:16

No Câmpus de Araguaína, está em curso uma disciplina que tematiza a literatura indígena. Sob o título "Culturas da escrita e culturas da oralidade nas Américas", a matéria envolve um esforço interdisciplinar entre uma geógrafa, um historiador e um crítico literário. É uma parceria desenvolvida entre dois programas de Pós-graduação do Câmpus da UFT em Araguaína: o Programa de Estudos de Cultura e Território (PPGCult) e o Programa de Ensino de Línguas e Literaturas (PPGL).

Estudar as questões da cultura e da literatura dos povos indígenas das américas é um ato mais que oportuno, uma ação necessária. A Universidade não pode se distanciar dessa causa, quase sempre relegada ao olvido da história.

A memória das américas está palmilhada da história dos povos indígenas. No Tocantins, temos a presença de sete nações indígenas. A UFT conta com expressivo número de alunos desses povos tocantinenses e de outros estados. A literatura lida e comentada durante séculos não encampava a escrita e a oralidade desses povos.

A disciplina objetiva analisar a produção ficcional de escritores indígenas brasileiros e canadenses; está contextualizada teoricamente no campo dos Estudos Culturais Latino-americanos. Com início no mês de fevereiro, os estudos seguem até o final de junho.

Os alunos vão produzir artigos e sua avaliação se dará a partir da publicação em revistas qualificadas pela Capes. O encerramento culminará com uma Roda de Conversa com o escritor Apinajé Julio Kamer Ribeiro Apinajé, mestrando em Antropologia Social pela UFG. A disciplina será ofertada novamente no ano que vem, 2018.1, nos dois Programas.

A ideia do curso vem da necessidade de visibilizar a produção literária de escritores indígenas e problematizar as estratégias, intenções e contextos dessas produções. As aulas são ministradas, uma vez por semana, com os três professores em sala.

Considerações dos docentes

Segundo o historiador e professor Dernival Venâncio Ramos Júnior, o grupo já está encerrando as discussões teóricas e os estudos de casos históricos. Nas próximas semanas, iniciam-se os estudos dos romances nacionais que tratam das culturas indígenas (como Simá, de Lourenço Amazonas; História do Ventríloquo, de Patrick Melville), para depois analisar as obras escritas por escritores indígenas contemporâneos: Daniel Munduruku e Leane Simpson.

Ramos Júnior destaca que a disciplina objetiva fazer uma trajetória histórica da relação entre culturas da oralidade de matriz indígenas e não indígena; e da escrita de matriz indígena e não indígena, nas américas. “Para isso lançamos mão do estudo particular de alguns exemplos históricos: por exemplo, a escrita Azteca e Maia, a relação entre cultura escrita europeia e a cultura oral indígena nos Andes, o estudo dos letrados indígenas no período colonial como Poma de Ayala, dentre outros.”

Ainda no âmbito dos conteúdos a serem abordados, Ramos Júnior acrescenta que será objeto de estudo casos como o do grupo Desana, do Amazonas, que decidiram registrar por escrito, e em português, a sua narrativa de origem do mundo. “Também estudaremos as representações - e apropriações de sua cultura - dos grupos indígenas nas literaturas nacionais na América, dando contexto para entender a produção de literatura nas línguas nacionais do Brasil e Canadá, por intelectuais indígenas”, conclui.

 

Para a geógrafa, professora Kênia Gonçalves Costa, doutora em Geografia, discorre que a disciplina, por meio dos conhecimentos/saberes num caminhar transdisciplinar e decolonial, propõe um diálogo com a literatura indígena dentro das culturas orais e escritas. Argumenta que os conhecimentos ameríndios repassados oralmente colaboram, há tempos, na autorrepresentação e na instituição da sociedade não-indígena, pois a base da formação identitária não tem como ser desassociado das matrizes indígenas.

 

“Para inserção/manutenção de seus saberes, esses povos insere-se no contexto cultural da escrita como uma desobediência epistêmica, porém, mesmo que não intencional, nos brinda com narrativas nacionais, fatos históricos e contextos específicos contextualizados em suas narrativas literárias a partir de uma visão descolonizadora”, pontua Kênia Gonçalves que sugere estabelecer diálogos com escritores indígenas do estado do Tocantins.

Já o crítico literário, professor Marcio de Araújo Melo, enfatiza a importância desse estudo: “É de suma relevância o estudo das literaturas indígenas pelo fato de se fazer um reconhecimento dessas literaturas, colocando em pauta debates necessários na atualidade, sobretudo para profissionais que atuam no âmbito educacional”.

Opinião dos pós-graduandos

Dos alunos que integram o grupo de estudo, Aloísio Orione sublinha que “a importância de se estudarmos a oralidade das culturas dos povos tradicionais está ligada ao reconhecimento de que as culturas orais de todos os povos devem ser valorizados como fonte de acumulação de conhecimento, de sabedoria e de empoderamento popular e dos grupos ameríndios. Empoderamento que permite o respeito à linguagem oral, a identidade e a memória de um grupo social humano”.

A pós-graduanda Maria Leal anota que o nome da disciplina atraiu sua atenção e que as expectativas em cursá-la eram de conhecer um pouco sobre o papel da oralidade e escrita nas Américas. Está sendo muito interessante, pois a cada nova discussão, percebe-se como os “sujeitos” se constituíam e se constituem na literatura americana e quais representações sociais se constituíram na literatura das Américas a partir da relação entre oralidade e escrita, e ainda o quão foi e é relevante a cultura oral para a literatura das Américas e, no entanto, constantemente tem ficado à margem das discussões acadêmicas.

“Outro aspecto importante a se enfatizar é a discussão acerca da escrita, seu surgimento, difusão e valoração de uma em detrimento de outras. Esses são os destaques iniciais relativos à disciplina, acredito que até o final do semestre algumas dúvidas serão elucidadas e outras tantas surgirão”, opina Maria Leal.

Ementa da disciplina

Língua, cultura e poder. Culturas orais, culturas da escrita e literatura. Culturas orais e escritas entre os povos ameríndios. Colonialidade, povos ameríndios e a cultura escrita. Os Estados nacionais, os ameríndios e a cultura escrita: O indígena inscrito pela narrativa nacional. Usos da cultura escrita, desobediência epistêmica autorepresentação. Língua, cultura e poder. Culturas orais, culturas da escrita e literatura. Culturas orais e escritas entre os povos ameríndios. Colonialidade, povos ameríndios e a cultura escrita. Os Estados nacionais, os ameríndios e a cultura escrita: O indígena inscrito pela narrativa nacional. Usos da cultura escrita, desobediência epistêmica autorrepresentação.

Os professores

Dernival Venâncio Ramos Júnior. Doutor em História, com foco em História Cultural, pela Universidade de Brasília (2009), com pesquisa sobre a relação entre Literatura e História.

Márcio de Araújo Melo. Doutor em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (2006). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira, com pesquisa sobre as João Guimarães Rosa.

Kênia Gonçalves Costa. Doutorada em Geografia pela Universidade Federal de Goiás (2014), com pesquisa sobre cartografia social dos povos Iny da Ilha da Bananal.

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