Dia do Artista de Teatro: projeto desenvolvido pela UFT promove saúde através da arte

Você já imaginou uma vida sem as artes teatrais? Responsáveis por propor uma reflexão sobre o mundo, com base na criatividade e na imaginação expressas  através de exercícios corporais, vocais e de interpretação, as artes teatrais se tornam uma ótima ferramenta de desenvolvimento de potencialidades, pensamento crítico, além de promover alegria e diversão. E é exatamente para homenagear e reconhecer  o trabalho dos profissionais que atuam nesse universo, desde os atores, diretores, dramaturgos, roteiristas, figurinistas, até quem cuida da iluminação e sonoplastia, que em 19 de agosto é comemorado o Dia do Artista de Teatro.

Um pouquinho de história…

A origem da data  no Brasil está vinculada ao Decreto Lei n° 6.533, de 24 de maio de 1978, quando as profissões de artistas e técnicos de teatro foram oficialmente regulamentadas. Mas  a lei só entrou em vigor em 19 de agosto daquele ano, data  escolhida para comemorar  o Dia do Artista de Teatro. Então, que tal conhecer um projeto da UFT em que os artistas de teatro protagonizam suas próprias histórias?

 Maturidade (En)Cena

Promover a saúde na terceira idade e o envelhecimento ativo da pessoa idosa por meio de práticas que entrelaçam arte e saúde. Essa é a proposta do Projeto Maturidade (En)Cena, desenvolvido  pelo curso de Licenciatura em Teatro da UFT, sob a coordenação da professora Renata Patricia da Silva. O Maturidade (En)Cena é um projeto extensionista que tem como principal foco a pessoa idosa e a saúde na terceira idade. Idealizado em 2016, ele surgiu com o objetivo de desenvolver práticas artísticas com idosos por meio de oficinas, montagem e circulação de espetáculos teatrais.

Desde sua idealização, o projeto desenvolve práticas teatrais com um grupo de idosos na faixa etária entre 60 e 75 anos da comunidade externa e da Universidade da Maturidade (UMA) da UFT. Além disso, estudantes do curso de Teatro e estudantes do curso de Medicina da UFT dão todo o suporte ao projeto extensionista e contracenam com os idosos. Dentro do projeto são trabalhadas técnicas corporais, técnicas vocais e técnicas de interpretação, mas a essência das produções são as histórias das pessoas envolvidas. O que é levado à cena são as histórias, a expressividade, a diversidade dos idosos em meio a sociedade plural, já que o projeto também tem a participação de jovens. Até o momento, a iniciativa já realizou três espetáculos, e além contribuir para a democratização do acesso à cultura, também  está transformando a vida dos participantes.

É o caso da dona Luizinha Costa da Silva. Antes de conhecer o projeto, ela sofria com um quadro de insônia e usava medicação para conseguir dormir. Mas, ao começar participar das atividades de criação teatral e das apresentações promovidas pelo projeto, tudo isso ficou para trás.“Eu tomava medicação para dormir e dormia, mas eu não tinha essa alegria o tempo todo, assim. Então depois que eu comecei a participar  do Maturidade (En)Cena e da UMA, a gente vai para os lugares, faz passeios e vem aqui para o teatro. E nossa, esse teatro aqui deixa a gente vivo, pegando fogo, como uma brasa viva” frisa dona Luizinha.

A melhora da memória e os novos aprendizados também conquistaram a dona Luizinha e hoje, seu principal objetivo é fazer com que mais pessoas conheçam o Maturidade (En)Cena. “Aqui a gente está o tempo todo lembrando das brincadeiras, das coisas e buscando lembrar, e a mente da gente vai trabalhando. E sem falar que, o serviço da gente em casa tem um rendimento muito grande porque a memória desbloqueia aqui através das brincadeiras, das dinâmicas e das interações. Então é muito bom, porque eu não sou mais aquela pessoa que reclamava muito, e eu sei que essa mudança aconteceu, só tenho a agradecer a cada um. É isso que eu quero para mim e vou trazer mais pessoas”,  enfatiza.

Para a professora Renata, que acompanha de perto histórias como essa há 7 anos, o projeto vai além das reflexões artísticas, se voltando também para uma reflexão sobre a própria sociedade. “Observando toda a trajetória desse projeto, eu considero que a importância dele se dá em diversas frentes. Primeiro, eu vejo que quando a gente pensa no fazer teatral, eu concordo com Augusto Boal, um grande diretor e dramaturgo brasileiro, uma figura muito importante, que dizia que todos podem fazer teatro inclusive os atores. E quando Boal diz isso, ele ressalta e afirma a importância de se democratizar o acesso à cultura e às artes. Então esse projeto de extensão vai ao encontro de um grupo que é, de certa forma, marginalizado pela sociedade, que são as pessoas idosas e traz para uma cena, não só a cena teatral, mas a cena social dessas pessoas com suas histórias e seus corpos”..

A professora também ressalta que celebrar o Dia do Artista de Teatro é uma forma de  reconhecer o papel destes profissionais no desenvolvimento humano e na construção da sociedade, e enfatiza a importância do curso de Teatro oferecido pela UFT e do projeto. “Quando a gente pensa na perspectiva de um curso de Licenciatura que está formando professores de Teatro e também artistas, é fundamental essa consciência e essa formação de que democratizar o acesso à arte por meio de ações como essas, possibilitando que ela chegue em todos os lugares, seja por meio da apreciação, seja por meio do fazer, fortalece o trabalho, fortalece a arte dentro da sociedade, fortalece a formação do cidadão, uma formação integral do cidadão. Portanto, eu penso que celebrar o Dia do Artista de Teatro, celebrar esse profissional, celebrar esse artista que leva essa arte coletiva, colaborativa e ativa para a sociedade. E é celebrar também um espaço em que todos, todos podem fazer teatro, inclusive os atores, como disse Augusto Boal”, conclui a professora. 

Vale lembrar que, pela qualidade das ações desenvolvidas, o Maturidade (En)Cena foi premiado em 2022 com o 2º lugar, no Congresso Internacional de Políticas Públicas sobre o Envelhecimento, em Madrid, na Espanha.