Observatório Amazonicidades é lançado durante o evento Diálogos Amazônicos
Entre os dias 4 e 6 de agosto, pesquisadores, entidades, movimentos sociais, sociedade civil e autoridades governamentais dos países que compõem a Amazônia se reuniram no Diálogos Amazônicos, em Belém (PA), para debater políticas públicas para a região. A professora Patrícia Orfila do curso de Arquitetura e Urbanismo, do Câmpus de Palmas, representou a Universidade Federal do Tocantins no evento com apoio da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Na ocasião, além das dezenas de atividades e plenárias, houve o lançamento do Amazonicidades — Observatório de Cidades, Vilas e Territórios, do qual a UFT faz parte, no dia 05 de agosto. ''Casamos a nossa participação nos Diálogos com o lançamento do Observatório Amazonicidades. Ele nasce dessa provocação dos Diálogos Amazônicos. Nós ouvimos os movimentos sociais, anotamos todas as pautas e tentamos fazer a relação com as necessidades do viver urbano, do viver em vila, do viver em comunidade'', explica a professora Patrícia.
A criação do grupo foi a forma encontrada pelos pesquisadores para fortalecer e incentivar pesquisas e políticas públicas voltadas para pensar sobre os pequenos, médios e grandes aglomerados urbanos da região da Amazônia.
''Nós procuramos levar ao máximo de eventos possíveis dentro dos Diálogos a pauta urbana. Se falou muito de bioeconomia, do rural, de como explorar recursos de maneira sustentável e quase não se falou das cidades amazônicas, do viver urbano amazônico. Quem costuma ser ouvido quando o assunto é cidade são pesquisadores e pessoas do Sul e Sudeste e eles acabam levando o debate do ponto de vista de lá'', reflete a docente que coordena o Grupo de Pesquisa Mulheres na Arquitetura e no Urbanismo (GPMAU) e compõe o Núcleo de Estudos Urbanos e das Cidades (Neucidades).
Amazonicidades
O Observatório de Cidades, Vilas e Territórios Amazônicos é composto por 80 pesquisadores vinculados às instituições federais de todos os nove estados que integram a Amazônia Legal. Representando o nosso estado, estão a Universidade Federal do Tocantins (UFT) e a Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT).
O lançamento oficial do observatório foi no dia 5 de agosto, no Auditório Arlindo Pinto do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará, durante o debate sobre ''Cidades Sedentas cercadas por Águas e outras Amazonicidades''. O coletivo elaborou, inclusive, um manifesto defendendo sua existência e expondo as necessidades de se discutir cidades da Amazônia (clique aqui e leia o documento na íntegra).
Nesse sentido, o Amazonicidades tem o objetivo de incentivar pesquisas acadêmicas sobre o urbano dentro da Amazônia. No Manifesto organizado, um dos principais pontos levantados é fortalecer e divulgar pesquisas sobre cidades que fujam da produção acadêmica hegemônica do Sul e Sudeste brasileiro, que não dialogam com as especificidades da região amazônica.
Justamente para pensar melhor sobre essa realidade, o grupo é formado por pesquisadores das áreas de Economia, Geografia, Arquitetura e Urbanismo, História, Agricultura, Saúde, Antropologia, Serviço Social, Sociologia, Engenharia, por exemplo. De acordo com a professora Patrícia Orfila, essa diversidade de profissionais é fundamental para debater as complexidades regionais e locais desses estados.
O viver urbano amazônico
''As cidades amazônicas têm especificidades muito diferentes. Pega, por exemplo, o título do manifesto, nós colocamos no nome do Observatório como cidades, vilas e territórios amazônicos. Aqui, nós podemos ver escalas de aglomerados urbanos. E quando nós pensamos em cidades, nós não pensamos nos pequenos núcleos no meio da floresta. Isso seria urbano ou rural? Essa caracterização é algo que temos que procurar entender melhor porque só os povos que vivem na floresta sabem da sua realidade e, por isso, a necessidade de ouvi-los'', pondera.
Estima-se que a Amazônia Legal tenha 25 milhões de habitantes distribuídos nos 772 municípios, que em sua maioria têm até 20 mil habitantes e com uma população rural acima da média nacional. Essas particularidades fazem com que seja preciso levar em consideração as diversas interseccionalidades ao se pensar, construir e desenvolver cidades na região. Cidades, essas, que se adequem às necessidades de moradia, mobilidade, infraestrutura e saúde pública.
Tendo em vista as questões apontadas, uma das pautas do Amazonicidades é promover uma mudança nos instrumentos contidos no Estatuto da Cidade e no Estatuto das Metrópoles, que hoje são insuficientes para a realidade da Amazônia. A intenção da mudança é fazer com que esses estatutos dialoguem com as especificidades da região e culminem na elaboração de uma Política Nacional de Desenvolvimento Regional Urbano para a Amazônia, que seria o Estatuto das Cidades da Amazônia. Essa política inscreveria o rural e o étnico nos instrumentos existentes e incluiria interseccionalidades (classe, raça, gênero, etnia, geração, LGBTQIA+) e as acessibilidades necessárias.
Sobre o evento
O Diálogos Amazônicos reuniu entre 04 e 06 de agosto de 2023, no Hangar Centro de Convenções em Belém (PA), um conjunto de iniciativas da sociedade civil organizada com o objetivo de pautar a formulação de novas estratégias para a Amazônia. O evento integra a programação da Cúpula da Amazônia e seus resultados serão apresentados por representantes da sociedade civil aos líderes reunidos na Cúpula.
Parte das plenárias e atividades ocorridas durante o evento estão disponíveis gratuitamente no canal do YouTube do Governo Federal, em uma playlist dedicada exclusivamente para os vídeos das transmissões dos Diálogos Amazônicos. Basta apertar o play e entender um pouco mais sobre o que foi discutido nos três dias de evento.
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