Um mergulho na Amazônia Azul: jovem cientista da UFT participou de expedição à Ilha da Trindade
No arquipélago mais isolado do Brasil e de acesso restrito a militares e pesquisadores, Paulo Macedo monitorou tartarugas, coletou algas e, nas horas vagas da missão científica, fez mergulhos e trilhas
No arquipélago mais isolado do Brasil e de acesso restrito a militares e pesquisadores, Paulo Macedo monitorou tartarugas, coletou algas e, nas horas vagas da missão científica, fez mergulhos e trilhas
: já ouviu falar? Em referência à riqueza ambiental de nossa Floresta Amazônica brasileira, temos outro tesouro cuja flora e fauna sofrem constantes ameaças e, por isso, também une cientistas em prol de seu estudo e conservação: o mar.
Este espaço geográfico nacional, no Atlântico Sul, abrange a superfície do mar, as águas sobrejacentes ao leito do mar, o solo e subsolo marinhos, indo da extensão atlântica, a partir do litoral, até o limite exterior da Plataforma Continental brasileira.
Sob a jurisdição do Brasil, estão mais de três milhões de quilômetros quadrados de espaço marítimo. Nessa “pequena” área do imenso Atlântico (são cerca de 100 milhões de quilômetros quadrados, no total), se encontram, por exemplo, nossas reservas do pré-sal. É desse território que se obtém 85% do petróleo, 75% do gás natural e, ainda, 45% do pescado produzido no país.
Além da importância econômica e estratégica, o espaço marítimo brasileiro abriga biodiversidade ainda pouco conhecida principalmente em territórios isolados, legalmente protegidos e, por ora, bem preservados da interferência humana. Entre esses, há a paradisíaca Ilha da Trindade - cume de uma enorme cordilheira vulcânica submersa, formada há cerca três milhões de anos por vulcanismo básico e misto.
Distante cerca de mil quilômetros da costa de Vitória, no Espírito Santo, ela forma, junto com a Ilha de Martim Vaz, o arquipélago situado no ponto mais isolado do Brasil.
Com permissão de acessar o local, estão somente militares das Forças Armadas - a Marinha brasileira ocupa permanentemente o território -, pesquisadores e outras pessoas autorizadas, em missões específicas.
UFT na Ilha da Trindade
Foi neste patrimônio natural, longínquo e bastante restrito - uma das jóias mais valiosas da nossa Amazônia Azul - que um estudante de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Tocantins (UFT), jovem pesquisador vinculado ao Laboratório de Microbiologia Geral e Aplicada (LMGA), do Câmpus de Palmas, esteve por dois meses.
Entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2023, Paulo Henrique Barros Macedo monitorou tartarugas com pesquisadores do Projeto Tamar, percorreu trilhas rochosas e íngremes daquela Ilha vulcânica e auxiliou, especialmente, pesquisadores da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) em trabalhos de campo com algas.
“Coletamos algas, ‘tartarugamos’ de madrugada, assistimos pequenas cirurgias de espécies, empurramos e navegamos botes, carregamos placas até o pico da Ilha, cozinhamos, limpamos, entre outros serviços e, assim, passaram-se dois ótimos meses”, conta Paulo, realizado com a oportunidade ímpar que teve.
A ida do jovem pesquisador deu-se por meio de recursos de edital do Programa de Pesquisas da Ilha da Trindade (PROTRINDADE/CNPq).
Como resultado da expedição científica, o estudante espera contribuir com os estudos das instituições parceiras e das próprias investigações científicas do Laboratório em que atua, sob a coordenação do professor pesquisador Raphael Sanzio Pimenta, também pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFT.
Macroalgas e mudanças climáticas
Coordenando, desde 2014, o projeto Monitoramento e bioatividade de macroalgas da Ilha da Trindade, frente às mudanças climáticas, a professora pesquisadora Franciane Pellizzari, da Unespar, explica que o estudo consiste num inventário sobre as macroalgas da ilha oceânica em isolamento biogeográfico. Foi durante a realização de uma etapa deste projeto que o jovem pesquisador da UFT participou, auxiliando nos trabalhos de campo - coletando macroalgas para estudos sobre o clima, em especial.
Ilhas prístinas e isoladas, bem como suas macroalgas marinhas, assim detalha Pellizzari, são excelentes indicadoras da qualidade ambiental. “Sendo assim, elas servem como modelo de monitoramento das mudanças meteorológicas e oceanográficas, ou seja, das mudanças climáticas”, afirma.
O projeto integra o PROTRINDADE, com o apoio logístico da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM) da Marinha do Brasil. É parcialmente financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação Araucária (FA) de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná.
Isoladas, mas (já) nem tanto
Entre os estudos desenvolvidos por Pellizzari, a pesquisadora ressalta a alta diversidade de macroalgas já catalogadas na Ilha: 141 espécies. Além dessas, foram registrados 20 gêneros de cianobactérias filamentosas.
“Ao contrário do esperado, este estudo não reportou alto grau de endemismo [espécie que ocorre exclusivamente numa região geográfica], mas obtivemos 60 novos registros de espécies de algas na Ilha”, relata.
Outro estudo coordenado pela cientista buscou metais traços (os chamados “pesados”) em talos de macroalgas, tendo registrado altas concentrações de zinco, chumbo e cádmio, além de dosagens de outros elementos como linha de base. “Isto sugere que as ilhas oceânicas não estão mais tão ‘isoladas’, e sofrem com impactos antrópicos e das mudanças climáticas”, revela a pesquisadora.
Que tal saber mais sobre os trabalhos com algas e outras temáticas em prol da conservação dos oceanos, desenvolvidos por Franciane Pellizzari? Acesse os perfis no Instagram: Polar & Tropical Phycology e Década dos Oceanos - Unespar.
Mergulhando em natureza, ciência e espírito de equipe
O estudante Paulo Macedo descreve a experiência de conhecer a Ilha de Trindade como uma oportunidade única não somente de aprendizado acadêmico, mas, sobretudo, de boa convivência coletiva, de aprimoramento do "espírito de equipe".
“Foram dois meses vivendo com pessoas, que de início, não se conheciam, mas construímos uma convivência saudável e cheia de parceria durante esse período. Aprendemos o que ser e o que não ser uns com os outros”, conta, sobre o período que esteve em Trindade.
E sobre as paisagens, os passeios, os momentos de lazer do grupo? Paulo conta que sim, foram vários, evidente, mas sem perderem o foco quanto ao objetivo maior da ida à Ilha. “Sim, nos intervalos das missões científicas, fizemos trilhas, mergulhos, pescarias e até artesanato, mas, teve, antes disso, muito trabalho. E, entre nós, não existia ‘o meu trabalho’ ou ‘o seu trabalho’, mas, na maior parte do tempo, o nosso trabalho. Muitas vezes, ajudamos uns aos outros com suas missões a serem cumpridas no Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT)”, conta.
Confira alguns dos registros de Paulo durante seus dois meses de expedição em Trindade:
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