Mulheres são maioria em cargos estratégicos na história da UFT, mas Instituição ainda desconsidera perspectiva de gênero, indica pesquisa
Estudo foi apresentado em dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional
Qual o papel desempenhado por homens e mulheres que ocuparam cargos estratégicos na gestão da Universidade Federal do Tocantins ao longo das duas primeiras décadas de história da Instituição em relação às perspectivas de gênero? Em torno dessa questão giram as reflexões presentes na dissertação "Mulheres na Gestão das Ifes: uma análise sobre a perspectiva de gênero no espaço organizacional da Universidade Federal do Tocantins", apresentada e aprovada, em maio deste ano, no curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da UFT (PPGDR). A autora do trabalho é Suely Lopes, administradora efetiva da UFT, ex-diretora de Desenvolvimento de Pessoas e Organizacional na Pró-Reitoria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas e, atualmente, lotada na Pró-Reitoria de Administração e Finanças, que desenvolveu a pesquisa sob a orientação da professora Temis Parente.
Além de investigar dados quantitativos, Suely entrevistou dez pessoas que fazem parte desse contexto, sendo sete mulheres que ocuparam cargos de pró-reitoras e três homens que ocuparam o cargo de reitor da UFT. A análise dos relatos dos entrevistados perpassa a história de figuras femininas que serviram de inspiração para a autora, por seu papel de pioneirismo e liderança: a própria mãe, Maria Felix Lopes; a líder comunitária Dona Raimunda, quebradeira de coco que recebeu o título de doutora honoris causa da UFT; e Isabel Auler, primeira e única mulher a ocupar o cargo de reitora da Universidade até então.
Uma das principais observações feitas na pesquisa é que, de 2003 a 2022, um total de 29 pessoas estiveram à frente das diferentes pró-reitorias da Universidade, dentre as quais a maioria, embora com pequena vantagem, era constituída por mulheres, numa relação de 16 para 13 homens. Isso no contexto de uma instituição que tem um quadro funcional equilibrado, dividido praticamente à metade, no recorte por sexo, entre servidores e servidoras.
Mas a questão não é apenas de representatividade quantitativa. Uma questão apontada é o fato de que as mulheres ocupam, principalmente, posições em áreas relacionadas ao "cuidar", que são papéis tradicionalmente relacionados ao feminino na estrutura social: a Pró-Reitoria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, por exemplo, teve três titulares desde sua criação, todas mulheres. Por outro lado, nas áreas "duras", há menor ou nenhuma participação feminina: não passa batido o fato de que a UFT nunca teve uma pró-reitora de Pesquisa, ou que apenas uma mulher – a professora Ana Lúcia de Medeiros, que já foi vice-reitora e atualmente está à frente da comissão de transição da UFNT – tenha alcançado até hoje os postos de pró-reitora de Administração e Finanças ou de pró-reitora de Avaliação e Planejamento. "Esses dados se relacionam com outras pesquisas, como, por exemplo, um estudo que mostrou que até pouco tempo atrás a Região Norte não tinha nenhuma bolsista de produtividade em Ciências Exatas, o que comprova que a defasagem de gênero no ambiente das universidades se dá tanto na esfera administrativa quanto acadêmica", pondera a professora e orientadora, Temis Parente.
Outro ponto discutido é a trajetória de carreira dos entrevistados e das entrevistadas. Para as pesquisadoras, o estudo mostra que o gênero, em certos casos, pode funcionar como uma espécie de atalho ou de atestado de capacidade. "É visível que as mulheres normalmente têm um caminho mais longo e gradual até alcançar cargos de gestão. Elas têm mais anos de experiência em funções técnicas e operacionais, passam por mais etapas de capacitação e ocupam cargos intermediários, como de coordenação ou direção, antes de chegarem aos postos mais altos. Já os homens, muitas vezes, são docentes ou técnicos que mais rapidamente se destacam e chegam a funções de chefia", explica Suely. "No entanto, a gente percebe que nem mesmo as mulheres que ocuparam funções estratégicas na UFT demonstram ter uma consciência dessas diferenças ou relataram ter procurado tomar alguma medida para corrigir essas distorções", acrescenta ela.
Atualmente, das oito pró-reitorias existentes, apenas duas são lideradas por mulheres – a Pró-Reitoria de Extensão e a Pró-Reitoria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas – confirmando a tendência observada anteriormente de restrição das áreas de participação delas. Apesar disso, as conclusões da pesquisa não deixam de ser otimistas ao considerar que a presença dessas mulheres nos espaços de poder não deixa de ser fundamental e pode ser um prenúncio de mudanças, mesmo que o ambiente ainda não seja favorável ao feminino. "O trabalho da Suely é um marco a partir do qual pode-se pensar em políticas públicas que levem em consideração a perspectiva de gênero específicas para a realidade da própria Instituição. Outras instituições já estão trabalhando nisso, e nós ainda não. É preciso que esse tema aflore aqui dentro, que a UFT faça essa discussão e busque capacitação dos seus servidores e servidoras a respeito desse tema, porque ficou evidente que não há clareza sobre as implicações de gênero na administração da Universidade", ressaltou a professora Temis Parente.
Redes Sociais