Dia Internacional da Enfermagem: conheça a história de profissionais da UFT que estão na linha de frente contra a Covid-19
Dia 12 de maio, comemora-se mundialmente o Dia da Enfermagem e o Dia do Enfermeiro, em homenagem a Florence Nightingale, marco da enfermagem moderna no mundo e que nasceu em 12 de maio de 1820. A profissão tem origem milenar e data da época em que ser enfermeiro era uma referência a quem cuidava, protegia e nutria pessoas convalescentes, idosos e deficientes. Os anos se passaram, mas a missão destes profissionais continua em todo o mundo, comprometidos com a saúde e o bem-estar do ser humano.
Para se ter uma ideia, no Brasil, de acordo com o Conselho Nacional de Enfermagem (Cofen), hoje são mais de 2 milhões e 300 profissionais de enfermagem, sendo que 24% são enfermeiros e os demais técnicos e auxiliares de enfermagem. Metade do contingente da enfermagem está na Região Sudeste. No Tocantins, são cerca 18 mil profissionais e 29% são enfermeiros. No estado, 60% dos profissionais de enfermagem têm menos de 40 anos e a maioria, 85%, é mulher. O maior empregador do estado é o SUS, que emprega 80% dos profissionais.
Esses números ainda são muito baixos diante da real necessidade destes profissionais no mercado, para que todos sejam cuidados adequadamente. Outro desafio é o salário, um quinto dos profissionais de enfermagem brasileiros ganha menos de um salário mínimo. Para a presidente da Associação Brasileira de Enfermagem no Tocantins (ABEn-TO) e também professora da UFT, Mônica Bandeira, a classe precisa de um dimensionamento adequado de pessoal, ou seja, um número de profissionais suficientes para o número de pacientes atendidos de acordo com a complexidade do trabalho.
Além disso, destaca ela, é necessário a redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais; piso salarial nacional; em tempo de pandemia equipamentos de proteção individual suficiente e adequado e reforço do SUS público, universal e igualitário com financiamento adequado.
O curso de Enfermagem da UFT tem contribuído em diferentes frentes neste aspecto. Formando profissionais capacitados para o mercado, lutando pela categoria de forma engajada e responsável, bem como dando respostas à sociedade com ações de cuidado, prevenção e educação em saúde.
Abaixo você confere a história de alguns desses profissionais enfermeiros da UFT, que além de se dedicar à docência estão na linha de frente de combate à pandemia do Covid-19.
Ana Edith
Ana Edith Farias Lima é formada pela Universidade Federal de Rondônia, enfermeira com 24 anos de experiência atuando em diferentes eixos da profissão: assistência, ensino, pesquisa e gestão. Hoje atua em plantões de 24 horas na assistência do Pronto Socorro do Hospital Regional de Gurupi e ainda na função de Coordenadora do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Tocantins, professora e coordenadora do Internato Rural de Enfermagem da UFT. Membro dos Comitês de Enfrentamento ao Covid-19 tanto na UFT quanto no Comitê do município de Gurupi, ela está sempre engajada nas lutas políticas para valorização da enfermagem e defesa do SUS.
“Nossos desafios neste momento se concentram nas condições de trabalho, dimensionamento deficitário, insumos e EPI’s escassos. Mesmo com todos esses desafios, ainda assim, amo o que faço e faço porque amo a Enfermagem. O cuidar de pessoas através do conhecimento científico, da habilidade adquirida ao longo dos anos, o olhar clínico para saber quando o paciente esta com dor, mesmo sem dizer uma só palavra, tudo me motiva e faz aumentar meu compromisso, responsabilidade e autonomia com a minha profissão”, afirma Ana Edith.
Juliana Bertho
Juliana Bertho é enfermeira formada pela Universidade Federal de Alagoas, Mestre em Saúde Coletiva, tem 22 anos de formada e já fez um pouco de tudo: atenção primária, atendimento pré-hospitalar, assistência hospitalar, entre outras atividades na área. Hoje é docente do curso de Enfermagem da UFT e coordenadora da equipe de enfermagem do Hospital Infantil de Palmas. Para ela o maior desfaio é o problema mundial da Covid-19, que aumentou as responsabilidades, desafios e tensões diárias dos profissionais da saúde.
“Trabalhamos com um público muito diferenciado que é a criança. O olhar da criança que muitas vezes não sabe explicar ou exprimir o que sente. Além disso, muitas vezes a gente esquece de cuidar de quem cuida. E os profissionais também são pais, filhos, amigos, tios e tias, e a gente tenta em nossa rotina diária melhorar esse olhar ao cuidador. É isso que faço em minha rotina diária como coordenadora, alguns dias estou na assistência junto com eles, mas na maior parte do tempo estou gerenciando essas equipes no dimensionamento, supervisionando as assistências, dando a eles também o olhar do cuidado para que eles se reequilibrem emocionalmente, para que eles tenham um suporte emocional também para conduzir seus trabalhos no dia a dia”, diz Juliana.
Mirian Cristina
Mirian Cristina dos Santos Almeida é enfermeira, formada pela Escola de Enfermagem da USP, com doutorado também pela Escola de Enfermagem da USP, com 22 anos de profissão. Durante sua trajetória trabalhou por mais de dois anos em unidade de terapia intensiva e por nove anos na estratégia de saúde da família. Concomitantemente já fazia docência para o nível técnico. Ela, que diz amar a arte de ensinar a cuidar, “uma arte com consciência e embasamento em conhecimentos científicos, para que tenham melhores resultados”, atualmente é professora do curso de Enfermagem da UFT e gosta de levar os alunos para prática.
Neste período de pandemia, Mirian tem contribuído como tutora no Programa de Educação Permanente - Atenção Primária e Vigilância à Saúde - PEP - APVS da Fesp, do qual ela faz parte. “Agora estamos fazendo a capacitação sobre a utilização de equipamentos de proteção individual, a paramentação e desparamentação para todos os trabalhadores das UPAs e também para os trabalhadores dos Centros de Saúde da Comunidade”, conta ela. Além de contribuir com a capacitação destes profissionais da área de saúde, ela faz parte de um projeto que estuda a saúde do trabalhador, que tem professores de várias universidades do Brasil.
“Estamos estudando sobre os potenciais de fortalecimento e desgaste dos trabalhadores de saúde no enfrentamento da Covid-19. Está sendo uma experiência muito interessante e muito desafiadora. A enfermagem tem enfrentado, juntamente com outros profissionais da saúde, problemas relacionados à escassez de equipamentos de proteção individual, falta de profissionais, isso tem feito com que muitos trabalhadores se contaminem em uma proporção maior do que a população em geral. Temos mais de 90 trabalhadores que já foram a óbito no Brasil devido o Covid-19. Mas a enfermagem continua ainda assim na linha de frente, dedicando-se ao cuidado ao próximo, que é aquilo que nos impulsiona. Mas é importante que esse trabalhador tenha condições dignas de trabalho para que ele possa enfrentar essa adversidade que está aí, uma vez que enquanto enfermeiros também somos seres humanos, temos famílias, temos filhos, pais e muitas pessoas que amamos”, pontua Mirian.
Izadória
Izadória Lopes Rêgo é enfermeira, formada pela Universidade de Gurupi (UNIRG), com 12 anos de profissão. Durante essa trajetória exercendo atividades na assistência, gestão e ensino. Hoje atua no Hospital Municipal de Imperatriz como enfermeira assistencial e professora substituta da UFT. Ela menciona que o colapso vivido na saúde hoje, 200 anos após Florence, remete a uma ligeira comparação com o início da profissão, na Guerra da Criméia, em tempos de Guerra.
“Vivemos uma guerra contra o invisível e trabalhando com o desconhecido. Uma doença em que tudo é incerto, de rápida evolução e que a ciência não está conseguindo acompanhar. E nesta guerra, o que a enfermagem representa em meio aos combatentes? Soldado essencial no plano terapêutico. Soldados da linha de frente do cuidado. É a equipe de enfermagem que fica 24 horas ao lado do paciente observando e cuidando até sua recuperação. É a enfermagem que tem o feeling da evolução do paciente. Há anos vivemos em uma luta em busca de condições dignas de trabalho, valorização profissional e respeito. Na atual conjuntura temos uma enfermagem sobrecarregada e desgastada, mas ainda assim motivada pelo amor ao cuidado do outro”.
Se tudo isso os desanima? Ela é clara: “Me dedico e vibro a cada recuperação dos pacientes. Feliz ao ver o esforço de meu trabalho na alegria das famílias ao deixarem o hospital com seu ente recuperado. Hoje como soldados de uma guerra nos sentimos com medo, sem armas (aqui representada pelos EPI), muitas vezes abandonados pelos comandantes (aqui representados pelos gestores) e sem reconhecimento na sociedade, às vezes, cansados, com jornadas exaustivas, pressionados, tristes e abandonados. Mas ainda motivados a seguir em frente. Sou enfermeira porque escolhi o cuidar, e neste momento desafiada a lidar com o novo, abrindo mão do convívio familiar, encarar cada dia como uma grande batalha, lutando mesmo em meio a tantas dificuldades e lutando para vencer. Ah, quem nos dera ser valorizados como temos sido aplaudidos nesse período de guerra! Quem imaginaria que o ano de comemoração à enfermagem seria o ano que perderíamos tantos colegas? Uma profissão que surgiu em uma GUERRA, e que vive TEMPOS DE GUERRA!! Expresso aqui os sentimentos de meus colegas guerreiros do Hospital Municipal de Imperatriz. Parabéns a toda equipe de enfermagem!”.
É com esses depoimentos que a UFT homenageia e reconhece o trabalho de todos os profissionais de enfermagem espalhados pelo mundo, Brasil e em especial aos valorosos colaboradores da instituição.
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