Mais Vida comemora um ano com promoção de acolhimento, saúde mental e relações humanas
O Programa de Promoção à Vida e à Saúde Mental, na Universidade Federal do Tocantins (UFT), também conhecido como Mais Vida, completou um ano de atividades. Neste mês do Setembro Amarelo, o Mais Vida é o principal promotor das ações realizadas nos câmpus, com destaque para o evento "Diálogos sobre Saúde Mental na Universidade".
Para além das ações alusivas ao Setembro Amarelo, o Mais Vida tem realizado diversas ações desde 2018. O programa surgiu como uma tentativa da Universidade em responder a uma série de eventos graves que ocorreram com mais frequência nos últimos anos, e tem como objetivo criar mecanismos de acolhimento e de visibilidade de um fenômeno que tem origens psíquicas, sociais, políticas e culturais.
Origens do sofrimento psíquico na Universidade
O primeiro passo do Mais Vida foi a aplicação de pesquisa para identificação das origens do sofrimento psíquico na universidade. De acordo com o coordenador do programa, psicólogo e professor do curso de Psicologia, Carlos Rosa, foram mais de 600 estudantes entrevistados nos sete câmpus da UFT, em 2018.
Entre os resultados, foram apontadas questões de origens psicológicas e físicas, mas também de meio ambiente, no caso a própria UFT, e de desterritorialização. “Existem dificuldades de acesso a serviços ou precariedade dos que são oferecidos, como nos casos em que o câmpus não possui restaurante universitário ou moradia estudantil”, pontua Rosa.
A relação entre professores e alunos e a ausência de rituais simbólicos de acolhimento, especialmente aos alunos que vêm de fora da cidade, também foram identificadas como causas do sofrimento psíquico por parte dos acadêmicos.
Práticas adotadas nos câmpus
Após mapear as questões, o Mais Vida iniciou o desenvolvimento de práticas, sobretudo voltadas à promoção de relações humanas na Universidade. “Criamos uma rotina de rodas de conversas e palestras que trazem visibilidade à saúde mental. Além de parcerias com o programa UFT em Movimento, promoção de atividades culturais e desburocratização de processos de assistência estudantil”.
Abaixo a relação das atividades:
- Projeto Círculos Temáticos de Intervenção Psicossocial - Araguaína
- Projeto Viver Melhor - Araguaína
- Oficina de Acolhimento - COEST/PALMAS
- Oficina para a valorização da vida e o enfrentamento do sofrimento psicossocial - Miracema e Palmas
- Ações de acolhimento, integração e inclusão no ambiente acadêmico - Arraias
- Acompanhamento e organização do cotidiano para as atividades acadêmicas - Arraias
- Saúde Universitária - Gurupi
- Projeto "Cuidar da Mente" – Gurupi
"Percebi que tinha uma rede de apoio quando eu precisava"
O estudante Gabriel Leite veio de Água Azul do Norte (PA) para Miracema do Tocantins estudar Psicologia. Ele diz ter sido beneficiado por ações do programa Mais Vida durante seu ingresso na Universidade, no início deste ano.
“Cheguei a Miracema para estudar sem nunca ter pisado na cidade. E para mim foi muito importante o acolhimento na primeira semana de aulas, com rodas de conversas com os calouros de todos os cursos, mediadas por estudantes veteranos”, declara o jovem.
Ele acrescenta que foi o momento em que conseguiu se abrir. “Percebi que tinha uma rede de apoio em que poderia buscar pessoas no momento em que eu estava precisando me adaptar. Fico pensando como deve ter sido difícil para quem veio antes e não teve esse apoio que eu tive”.
Atualmente, Gabriel participa do Mais Vida com o desejo de retribuir o acolhimento que teve. “Participei de uma oficina em que a gente aprendia como tranquilizar uma pessoa que está passando por um momento de crise. Hoje, me sinto mais seguro para ouvir e conversar com pessoas que precisam”.
Desafios
Mesmo com os avanços e a percepção de que há um trabalho em desenvolvimento com grande potencial, o coordenador do Mais Vida, Carlos Rosa, reconhece que ainda é cedo para atingir resultados que envolvem a transformação de culturas sociais e institucionais.
“A principal questão a ser superada ainda é o preconceito com o sofrimento psíquico porque as pessoas associam isso à demonstração de fragilidade e se sentem envergonhadas ou discriminadas. Mas tem que ser encarado como algo absolutamente natural porque todo mundo sofre”. A falta de adesão maior, por parte dos professores, para uma visão de saúde mental como fundamental para que os processos acadêmicos ocorram também é outro ponto.
Além disso, outra dificuldade é a questão dos recursos, com sucessivos cortes ou contingenciamentos no orçamento da universidade. “Não se faz projetos de saúde mental e qualidade de vida sem recursos. Atualmente, os psicólogos da UFT possuem atribuição organizacional e não de atendimento. Ainda assim, em Palmas, por exemplo, são três psicólogos em um câmpus com mais de 7 mil estudantes. Precisaríamos fortalecer os núcleos de apoio. Mas como fazer mais com menos recursos?”, questiona.
Também existem questões estruturais que extrapolam a Universidade, como ocorre, por exemplo, em cidades do interior, nas quais os serviços municipais ou estaduais de saúde mental não existem ou não funcionam como deveriam. “São questões que fragilizam ainda mais os estudantes em sofrimento psíquico”, conclui.
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