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Cotas na UFT: democratização do acesso ao Ensino Superior

Por Elâine Jardim e Daniel dos Santos | Publicado: Quinta, 28 de Abril de 2016, 15h59 | Última atualização em Terça, 13 de Setembro de 2016, 14h01

“Nós, povos indígenas, necessitamos de saberes além dos tradicionais, precisamos de uma saúde de qualidade e de profissionais que entendam nossas especificidades culturais”, conta Maíra dos Santos Bentes Tapuia, aluna do oitavo período do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins (UFT), no Câmpus de Palmas. Orgulhosa de ser do povo Tapuia - comunidade indígena em Santarém/Pará -, Maíra tem 30 anos, é mãe e vai realizar o sonho do seu povo: ser a primeira indígena médica de sua etnia.

A UFT foi a primeira universidade brasileira a instituir o sistema de cotas para estudantes indígenas. Em 2004, a resolução elaborada pelo Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (Consepe) e pela Secretaria Especial para Promoção de Políticas de Igualdade Racial (Seppir) reservou 5% de vagas do vestibular da UFT para estes candidatos.  Desde então, mais de 700 alunos originários de diversas etnias de todo o Brasil ingressaram na UFT.

Cotas na UFT: democratização do acesso ao Ensino Superior

“Já sou formado em Odontologia, no entanto, é única a sensação de estar no curso que eu sempre quis. Estou no segundo período, tenho algumas dificuldades, pois moro em Porto Nacional, tenho um filho, trabalho nas horas vagas e preciso me deslocar para Palmas todos os dias”, afirma Rafael Pinto Nogueira, estudante de origem quilombola, natural de Chapada de Natividade/Tocantins, comunidade a qual leva o mesmo nome da cidade, situada no sudeste do estado, a 216 km da capital. Assim como Maíra, Rafael é estudante de medicina e entrou pelo sistema de cotas.

No dia 19 de novembro de 2013, na véspera do dia da Consciência Negra, o Conselho Universitário (Consuni) da UFT aprovou a cota, também de 5%, para estudantes de origem quilombola em processos seletivos para os cursos de graduação. Desde a vigência da reserva de vagas para estudantes quilombolas, em 2014, 150 estudantes ingressaram na universidade.

Inclusão Social
Para a professora Ana Lúcia Pereira, Doutora em Sociologia, a parcela da sociedade brasileira que critica as cotas não entendeu que era uma reparação para os 350 anos de escravidão no país. “A desigualdade social do Brasil afeta as relações sociais, então o índice de violência e de pobreza resulta na falta de acesso à educação superior. Quando a lei de cotas (Lei Nº 12.711/2012) foi sancionada, não fizemos esse debate. Com isso, as pessoas se limitaram a dizer que são contrários ou favoráveis às cotas. E não é bem assim. Estamos numa situação efetivamente de inclusão desse aluno e da universidade adaptar à situação, para trazer um pouco a universidade para mais próximo dessa sociedade”, explicou.


Evitar evasão
Para garantir a boa formação e evitar a evasão desses estudantes, a UFT mantém alguns programas que os auxiliam ao longo, ou antes, da graduação.  Confira os programas abaixo.
Programa de Acesso Democrático à Universidade (Padu)
Programa Institucional de Monitoria (PIM)
Programa Institucional de Monitoria Indígena (PIMI)
Programa de Apoio ao Discente Ingressante (Padi)

Desempenho
Karinna Gomes Oliveira Rodrigues tem 20 anos e está no sexto período do curso de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, no Câmpus de Gurupi. Karina entrou na UFT através da lei de cotas (escola pública/negros) e tem um bom desempenho. “A grade do meu curso é muito pesada e isso acaba levando os alunos a reprovarem bastante. Com esforço consegui passar nessas matérias que têm alto nível de reprovação. Serei a segunda pessoa da minha família a ter formação em um curso de nível superior”, destacou.

O professor José Wilson Rodrigues de Melo, que é Doutor em Didática e Organização Escolar, considera que os impactos da política de cotas são positivos para o Brasil e que a sociedade brasileira não é a primeira a ter ações afirmativas. "Podemos destacar outros países, como os Estados Unidos, que utilizaram as ações afirmativas para possibilitar inclusão de certos povos que não faziam parte, da constituição global de uma sociedade. Eles ficavam de fora de participar no âmbito dos direitos no sentido mais amplo", pontua.

Melo ainda acrescenta que "as ações afirmativas estão implicadas com os direitos humanos, pois apenas aqueles que estavam dentro de certos recortes é que poderiam ser incluídos. Aqueles que estavam marcados pela diferença linguística, cultural, diferença nos mais diversos sentidos, não eram contemplados. E com as ações afirmativas, os diferentes também tiveram o direito de serem tratados como iguais, apesar das suas diferenças. O impacto é no sentido de envolver cada vez mais sujeitos que não chegavam até a universidade e, agora, fazendo parte disso, tem considerado que a universidade, de certo modo, tem avançado na questão democrática. Esse é um dos impactos mais significativos”, explanou.



“Eu me sinto muito vitoriosa por ter conseguido tudo que já conquistei. Pois minha família não teria condições de me proporcionar o estudo em universidade particular, e muito menos um curso de idiomas ou intercâmbio”, conta Aléxia Lohanna Monteiro Lima, de 23 anos, acadêmica do curso de Medicina Veterinária, no Câmpus de Araguaína. Ela é de Porto Nacional/Tocantins e já estudou na Austrália através do programa Ciências Sem Fronteiras, onde aprendeu o idioma e cursou algumas disciplinas na universidade local. Aléxia está no nono período e pretende realizar o seu sonho logo: engajar-se na carreira acadêmica e ser veterinária em um hospital escola.

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