A jornalista e ex-aluna do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Tocantins, Dandara Barbosa, atua no Movimento Negro desde o início de sua formação acadêmica, tendo, inclusive, abordado temas relacionados em seu Trabalho de Conclusão de Curso. Além de integrar alguns coletivos do Estado, como o Ajunta Preta, ela também participa do movimento das mulheres negras, de eventos e marchas do Movimento Negro. Agora ela está prestes a realizar um grande sonho, que se tornou possível por meio do edital Caminhos, da Fundação Tide Setubal, que teve como principal intuito capacitar e aprimorar a atuação de lideranças negras, que tenham nascido ou vivido em periferias urbanas brasileiras ou em contextos periféricos urbanos. Dandara foi a única selecionada no Estado do Tocantins. Em entrevista para a Pegadas - Agência de Conteúdos Jornalísticos da UFT, a jornalista contou um pouco sobre sua trajetória e o que espera dessa nova conquista em sua vida .
Pegadas - Quando e como foi o seu primeiro contato com o Movimento Negro?
Dandara - Meu primeiro contato com o movimento negro foi quando entrei na universidade.
Pegadas - Qual impacto esse contato com o Movimento Negro teve na sua vida?
Dandara - Teve todo um impacto positivo porque eu me descobri negra e quando a gente fala de descobrir é se reafirmar, valorizar; é amar a sua identidade negra. Porque, infelizmente, a gente vive em uma sociedade eurocêntrica, que tudo que é relacionado ao negro é tido como algo ruim, como algo feio e negativo. Então, quando eu descobri o movimento negro, comecei a reafirmar mais essa minha identidade, a estudar mais intelectuais negros, a entender, a reivindicar mais direitos para a população negra. Então, foi de extrema importância porque eu também entendi a importância de se auto-organizar enquanto Movimento Negro. Foi um divisor de águas mesmo.
Pegadas - Como o curso de Jornalismo influenciou e impulsionou a sua atuação como liderança negra?
Dandara - O curso me influenciou muito, principalmente as matérias relacionadas a essas temáticas que eu tenho grande interesse e já atuo profissionalmente, a disciplina optativa dos Direitos Humanos, Jornalismo e Cidadania, Etnografia. O curso de Jornalismo te prepara para isso, pra você se comunicar com a sociedade, então foi algo importantíssimo.
Pegadas - Há quanto tempo você atua como liderança negra?
Dandara - Eu atuo desde que eu entrei nos movimentos negros, percebi que eu tenho uma missão, um propósito de vida, de estar à frente destes movimentos. Desde os meus 18 anos, hoje tenho 24. Fui diretora da UNE (União Nacional dos Estudantes), participei de coletivos, de movimentos de mulheres negras, de eventos e marchas relacionadas a isso e sempre estive à frente.
Pegadas - O que esse edital representa para sua vida pessoal e profissional?
Dandara - Representa um sonho. Eu vou poder atuar na área que mais desejo: jornalismo que defenda os direitos humanos. Vou potencializar minhas habilidades e competências na área jornalística e social… Aprender uma outra língua, conhecer uma nova cultura, e entender como funcionam as organizações sociais, instituições sociais.
Pegadas - Você já tem em mente algum planejamento para o valor que ganhou no edital?
Dandara - Sim... para ser escolhida precisava mandar também uma planilha de orçamento do que deseja fazer com o valor. Essa planilha inclui, um pacote de intercâmbio, uma empresa especialista em intercâmbio de projetos sociais, nele estão incluídas aulas de espanhol, hospedagem e direcionamento do intercambista a uma organização social, para atuar, baseado na sua experiência profissional e aptidão. O projeto tem duração de dois meses e meio, finalizo fechando três meses. Por isso que solicitei hospedagem nos últimos 15 dias.
Pegadas - Diante do nosso cenário atual qual a importância e o impacto de iniciativas como esta?
Dandara - Infelizmente nós mulheres negras não temos uma representatividade nos espaços de poder, na mídia porque não é fácil ocupar espaços majoritariamente ocupados por brancos. Esse edital vem com um propósito muito bacana, de potencializar lideranças negras que vieram de periferias. Isso vai ajudar a combater a desigualdade racial presente nos espaços de poder. Ou seja, é um programa que busca valorizar a trajetória de lideranças negras.
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